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A Coluna do Sul no Rito Brasileiro e sua Importância

PREÂMBULO.

Um dos princípios fundamentais da nossa Sublime Ordem é não permitir que uma interpretação pessoal da verdade, se apresente como única e imutável.

Pautado nisto, deixo claro, a todos que tomarem conhecimento deste trabalho, que objetivo apenas apresentar as minhas intuições, como AprM sobre os temas que serão abordados.

Agradeço desde já aos MMMM que me auxiliaram em pesquisas e elucidações das dúvidas que me ocorreram durante a construção desse texto.

PARTE I.

O SUL DO TEMPLO, LUGAR DOS AAPR NO RITO BRASILEIRO.

Após ser iniciado na Maçonaria, todo Obr toma assento, como AprM em uma das colunas que ficam na parte ocidental do Templo.

Comumente essa coluna fica no Ocidente Norte. Nos Ritos: Moderno, Adonhiramita, R.E.A.A e R.E.R sentam-se na última fileira da Coluna, no Rito de Schröder, na primeira fileira da Coluna, e no Rito de York (Emulation Working) sentam-se também na primeira fileira, porém mais próximo do Oriente¹.

Então, por que razão no Rito Brasileiro, e somente nele, eles sentam na última fileira do Ocidente Sul²?

Para responder essa questão, tão comum para os recém-iniciados no Rito, quanto para visitantes de outras OOf aqui farei a exposição das duas explicações mais coerentes, que encontrei em minhas pesquisas.

A EXPLICAÇÃO SIMBÓLICA.

Os Solstícios são acontecimentos astronômicos que marcam, de forma alternada, o início do Verão e do Inverno em cada Hemisfério. Quando ocorre no verão, significa que a duração do dia é a mais longa do ano. Analogamente, quando ocorre no inverno, significa que a duração da noite é a mais longa do ano. Entre os dias 21 e 23 de dezembro, acontece o Solstício de Inverno no Hemisfério Norte³, onde fica a Europa, berço da Maçonaria Especulativa e dos seus primeiros Ritos.

O dia que marca esse evento é considerado o menor do ano. Alegoricamente, mais escuridão do que luz. A partir de então, a duração dos dias seguintes, vai gradativamente ficando maior, o que, para as culturas de povos ancestrais, simbolizava a vitória da Luz sobre a Trevas³.

O Templo é claramente uma analogia ao Globo Terrestre. Penso que isso serve, tanto para ressaltar a ideia de que, ao cruzar os portões e ficar entre CCol, o Maçom adentra outro mundo, o Mundo Maçônico, com tempo e dimensões próprias, quanto para reafirmar que a Maçonaria deve chegar aos quatro cantos do Planeta sem distinguir fronteiras.

A todo instante, em nossos trabalhos como AApr, existem referências ao posicionamento do SOL sobre a Abóboda Celeste. Ele nasce no Oriente, chega ao Zênite, se põe no Ocidente e etc. Isso nos remete à ideia de que, mesmo no Mundo Maçônico, somos parte do Universo e estamos sob sua influência. Não é porventura que a Astronomia é uma das 07 Ciências que formavam a sabedoria dos Antigos².

Dito isto, é crível que os criadores dos primeiros Ritos Europeus tenham escolhido, pela sua importante alegoria à evolução³, o Solstício de Inverno, para representar as Sessões Ordinárias do Grau de Apr, e, tomando como base a região que habitavam, tenham escolhido o Norte como o local mais indicado para abrigar aqueles que, ainda há pouco, saíram das trevas e precisam se acostumar com a luz.

Os elaboradores do Rito Brasileiro consideraram amplamente as características do país. Isso inclui a nossa localização geográfica, abaixo da linha do Equador⁴. Houve então a inversão da Colue abriga os AApr para o Lado Sul, devido ao fato de que, é ali que está a menor quantidade de luz, durante o Solstício de Inverno no Hemisfério Sul, que acontece entre os dias 21 e 24 de junho³, conservando assim a ideia original.

A EXPLICAÇÃO PRAGMÁTICA.

Tendo o Templo quatro lados, e sendo as posições dos VVig, o Ocidente e o Sul, e do Ven M o Oriente, o Norte ficaria sem a presença de uma LUZ, ou pouco iluminado⁵.

Já no Rito Brasileiro, temos o seguinte: Na COLUNA DO SUL, fica o Altar do 2° Vig, e sobre ele está um candelabro de três pontas, onde, em Sessões Ordinárias do Grau de Apr, apenas uma das “velas” está acesa, iluminando toda a Coluna. Portanto, essa é, a porção menos iluminada do Templo, uma vez que, na COLUNA DO NORTE, no Altar do 1° Vig são duas e no ORIENTE, no Altar do Ven M, três, a quantidade de “velas” acesas, nos castiçais, durante a referida sessão².

De todas as formas, fica evidente que a preocupação dos ritualistas, tanto Europeus quanto Brasileiros, foi sempre manter o recém-iniciado protegido da exposição excessiva de LUZ.

Porém, desde que deixamos o mundo Profano (do Latim: Profanus:Fora do Templo⁶) e cruzamos os umbrais dos Augustos Mistérios, não podemos limitar os nossos pensamentos a conclusões tão obvias.

SIMBOLOGIA E CONHECIMENTO.

Quando nos referimos à simbologia na Maçonaria, devemos sempre nos atentar que nada é ao acaso. A disposição dos oficiais dentro do Templo, a circulação, os símbolos, as alegorias, os paramentos, os ornamentos e todos os outros elementos inerentes a um Rito, incluindo ai a posição das CCol, foram cuidadosamente estudados pelos seus elaboradores, a fim de transmitir os ensinamentos da Ordem, que serão apresentados nas práticas ritualísticas e nas lições de cada Grau.

Porém, para aqueles que quiserem e puderem “enxergar sem ver”, é sabido que, além dos conhecimentos absorvidos pelos cinco sentidos, existe outro que é transmitido de forma mística.

A padronização das doutrinas religiosas transformou o Misticismo em algo pejorativo, denegrindo o termo, que na sua origem significa:

“…a busca da comunhão com uma derradeira realidade, divindade, verdade espiritual ou Deus, através da experiência direta ou intuitiva⁷.”

Na Maçonaria, essa experiência se dá atravésdo simbolismo e da conexão do Maçom com a Egregora da Loja. Essa, por sua vez, está ligada a uma Egregora Milenar que transpôs os tempos e que é a base da Maçonaria Universal.

Carl Jung, no livro: O Homem e seus Símbolos, diz que (Jung; Carl, pg.03; 12ª edição) “Os sentidos do homem limitam a percepção que este tem do mundo à sua volta⁸”.

Há algo que se equipara a tal afirmação no Ritual do 1º Grau – Aprendiz Maçom – do Rito Brasileiro–Edição 2009(pg.296), onde há uma pergunta: “Por que usa símbolos a Maçonaria²?” E como resposta, temos:

“Porque se origina dos Antigos Mistérios, onde os símbolos e as alegorias… pela impressão que causam aos sentimentos e ao espírito²”.

Fica evidente que os ensinamentos presentes nas alegorias e símbolos maçônicos não devem e nem podem ser limitados às informações que os sentidos conseguem absorver. É preciso permitir que, através de canais extras sensoriais, seus conceitos alcancem o nosso espírito, e esse por sua vez, possa, ao reconhecê-los,transformá-los em conhecimento.

Por meio das exemplificações simbólicas e das emulações energéticas, esses ensinamentos chegam aos OObr, que, para serem dignos de recebê-los, foram previamente preparados através dos rituais Herméticos e das purificações alquímicas presentes na iniciação.

É certo que cada Maçom deverá entender o simbolismo de forma particular, porém, sem nunca desviar-se da ideia central da Ordem, que é: a elevação Moral. Ela é que regulará os atos regidos pela Sabedoria, pela Força e pela Beleza.

PARTE II

OFUSCADO E CONFUSO.

O Profano chega à porta do Templo repleto de dúvidas e com o coração cheio de anseios. Passa por provas, viagens, purificações, torna-se neófito e logo em seguida, maçom.

A confusão, composta pelas falsas convicções que tinha a respeito da Ordem em choque com que ele acaba de descobrir como realidade, atordoa o seu raciocínio. A LUZ, que lhe foi concedida com esplendor, feriu seus olhos, que eram acostumados com as trevas. Seu corpo titubeia ao receber o impacto da Verdade que emana do Oriente.

As novas descobertas, o Ritual, as regras da vida maçônica, sinais, toques, palavras, toda essa quantidade de informação, ainda a ser organizada em sua mente, colabora, mesmo que imperceptivelmente, para o bloqueio dos canais de comunicação entre ele e a Egregora.

Em seguida, após a investidura do avental, o AprM é apresentado às suas ferramentas de trabalho. São elas: o Maço, que representa as forças – física, mental e espiritual – e o Cinzel – que com sua face afiada, representa o discernimento, a auto critica, o bom senso. É com união das duas ferramentas alegóricas que o AprM trabalha no desbaste da PB (ele mesmo), a fim de torná-la polida e útil à construção do Templo (a sociedade).

Todavia, como vimos, nos seus primeiros passos, ainda instável, confuso e ofuscado, o Apr pode impor desmedido esforço no uso do Maço ou apontar o Cinzel de forma errônea. Sua mão trêmula pode não conseguir absorver os golpes e causar dano, ou às ferramentas, ou o que é ainda pior, a si mesmo.

Assim sendo, faz-se necessário para o Iniciado, um local adequado onde ele possa equalizar, no campo físico: a força e a firmeza; no campo mental: as emoções e o autocontrole e no campo espiritual: as energias e as percepções.

Esse lugar, no Rito Brasileiro, é a Col do Sul.

FORÇA E ESTABILIDADE.

Joseph Campbell (1904 a 1987) foi um grande estudioso de mitologia e religião comparada⁹, e também autor de livros que atribuíam aos mitos, valores que parte humanidade, com o passar dos tempos, ou esqueceu ou colocou em segundo plano.

No livro O Poder do Mito, assim ele descreve a Mitologia:

(pag.22) “São histórias sobre a sabedoria de vida, realmente são. O que estamos aprendendo em nossas escolas não é sabedoria de vida”… (pag.29) “São os sonhos do mundo. São sonhos arquetípicos, e lidam com os magnos problemas humanos.”… (pag.44) “Cada indivíduo deve encontrar um aspecto do mito que se relacione com sua própria vida.¹⁰”

Usarei aqui a Mitologia para exemplificar algo que compreendi melhor através da simbologia presente na Maçonaria e em especial com o Rito Brasileiro.

Podemos observar em diversos contos mitológicos, relatos sobre seres demasiadamente fortes, porém inconstantes ou confusos. Assim são os Trolls Escandinavos, os Gigantes Nórdicos, os Ogros e afins. E o que há em comum em todos eles, além da debilidade intelectual, é a ausência de beleza. Nota-se que, nas suas descrições, são sempre coxos, toscos e suas atitudes sempre deploráveis.

Isso acontece devido à falta de discernimento e da capacidade de raciocínio reduzida, em contraponto a uma grande disposição física, o que configura um desequilíbrio. Esses contos nos mostram que a FORÇA, quando unida à INSTABILIDADE, transforma- se em CAOS.

Existem, ainda nas Mitologias, seres dotados de grande força física, porém sensatos e equilibrados, a exemplo de Hércules, Teseu, Perseu e Cadmo, que, não apenas pelos aspectos físicos, mas também pelos seus feitos¹¹, dão testemunho de que a FORÇA, quando unida à ESTABILIDADE, converte-se em BELEZA.

A ESTABILIDADE QUE CONCEDE A BELEZA.

Novamente falando em particular sobre o Rito Brasileiro, no SUL do Templo se encontra um dos Três Pilares que sustentam a Loja. A esse pilar dá-se o nome de: STABILITAS. Ele é representado pela figura do 2° Vig².

A palavra Stabilitas vem do Latim e dela derivam as palavras: ESTÁVEL e ESTABILIDADE¹².

Estabilidade é por definição: firmeza, equilíbrio, segurança¹³. Essas são, conforme vimos anteriormente, qualidades necessárias para que o AprM trabalhe de forma correta no desbaste da P B, pois, nessa tarefa, a precisão é tão importante quanto à força.

Ainda no SUL, localiza-se uma Coluna de Bronze que representa o Solstício de Inverno² e é designada pela Letra B – inicial da palavra sagrada do Grau de AprM. Todos nós sabemos que o significado dessa palavra, nos remete àFORÇA¹⁴.

Ao lado direito do Altar do 2° Vig, ou do Pilar Stabilitas, fica a P B, repleta de arestas e disforme. No lado oposto, sobre a réplica de uma coluna de arquitetura Coríntia – não por acaso, a mais bela das Ordens Arquitetônicas Gregas¹⁵, repousa a estátua de Vênus², que obviamente, é também uma alegoria à Beleza. Faz-se necessário ressaltar que, tanto as Colunas e seus capitéis belamente ornamentados, quanto as mais belas Estátuas, no passado, eram esculpidas, sempre, a partir de pedras comuns. Dessa forma, torna-se fácil perceber a intencional posição desses elementos dentro do Templo, na tentativa de nos mostrar a evolução do Vulgar ao Belo.

CONCLUSÃO

SURSUM CORDA.

Conforme vimos, fica evidente o cuidado com relação à simbologia, por parte dos elaboradores do Rito Brasileiro, no intuito de tornar o SUL do seu Templo, o local apropriado para a recepção dos AApr MM, não só por conta da menor incidência de Luz, mas também, pela presença de elementos que através dos seus simbolismos, transmitem aos Iniciados a Força e a Estabilidade, necessárias para que eles percebam a potencial Beleza que há na PB a ser desbastada.

Alagoinhas 13/07/2015 EV

Fagner Fonseca Oliveira. AprM CIM: 289538

LOJA MAÇÔNICA 25 DE DEZEMBRO Nº 1.675

Or... DE ALAGOINHAS – BA

Jurisdicionada ao Grande Oriente Estadual da Bahia,

Federada ao Grande Oriente do Brasil,

Instalada em14/08/1966 e Regularizada em 08/01/1967

Referências:

1Diferença entre Ritualísticas entre Ritos do GOB. Disponível em:

http://www.inspetoria.org.br/arquivos/cenal/noticias/livros/iiiritosdiferencasentreosritos dogob.doc

2Ritual 1° Grau – Aprendiz Maçom – Rito Brasileiro – São Paulo: Grande Oriente do Brasil,

2009.

3Os Solstícios.

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Solst%C3%ADcio

4Histórico, estrutura e algumas características do Rito Brasileiro. Disponível em: http://www.masonic.com.br/rito/trb04.htm

5Por que os Aprendizes se sentam no Norte.

Disponível em: http://www.noesquadro.com.br/2011/01/por-que-os-aprendizes-se-

sentam-no.html

6Profano.

Disponível em:http://www.noesquadro.com.br/2011/02/as-ordens-arquitetonicas-no- rito.html

7Misticismo.

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Misticismo

8 O Homem e seus Símbolos. 12 Edição. JUNG, Carl G., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1964.

9Joseph Campbell.

Disponível em:https://pt.wikipedia.org/wiki/Joseph_Campbell

10O Poder do Mito – O poder do mito /CAMPBELL, Joseph, com Bill Moyers; org. por Betty Sue Flowers; tradução de Carlos Felipe Moisés. -São Paulo: Palas Athena, 1990.

11O Livro de Ouro da Mitologia: Histórias de deuses e heróis, Thomas Bulfinch; tradução David Jardim, – Rio de Janeiro: Ediouro 2006

12Stabilitas.

Disponível em:http://www.latinwordlist.com/latin-words/stabilitas-30371156.htm

13Estabilidade. Disponível em:

http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues- portugues&palavra=estabilidade

14As colunas do Templo. Disponível em:

http://www.maconaria.net/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=257

15As Ordens Arquitetônicas na Maçonaria.

Disponível em:http://www.noesquadro.com.br/2011/02/as-ordens-arquitetonicas-no- rito.html

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