Irm.´. José Carlos de Araújo.
ARLS Renovação Londrinense 141-PESQUISA BRASIL 45-
Londrina-PR
A Coragem é a virtude ao lado da Justiça, da Temperança e da Sabedoria, como uma das quatro Virtudes Cardeais às quais devem atenção os, maçons na sua busca pela Verdade.
A tentativa de compreender esta virtude, no entanto, pode nos levar à falsa ideia de que heroísmo, destemor, bravura e valentia seriam equivalentes éticos da coragem, quando na verdade a coragem, no sentido pleno que o termo merece, muitas vezes não pauta os atos dos heróis, dos destemidos, dos bravos e dos valentes. O mundo é farto de homens indiferentes ao medo, e cujas ações, a princípio, confundem-se com aquelas de elevado teor moral. Mas para serem assim consideradas, deve coexistir nas ações heroicas o traço psicológico da bravura de seu praticante e a consciência de que o seu agir está voltado ao bem comum. A coragem de que falamos, portanto, é aquela que serve de instrumento de busca da Justiça Social, e não aquela que impulsiona homens e mulheres a escalar montanhas, atravessar de forma solitária oceanos e se engajar em guerras fratricidas.
As ações destemidas e heroicas muitas vezes se esgotam nessa particularidade subjetiva do caráter dos seus agentes, não chegando a avançar na direção da virtude. Estas ações podem até revelar quão fortalecida é a personalidade de seus praticantes, ou o grau de indiferença ao medo, mas não necessariamente traduzem um agir moral, representando sempre pela busca de Justiça e da Verdade. Em resumo, a coragem vista um traço psicológico só se transforma em qualidade moral se visa um bem universalmente considerado. Apenas psicologicamente considerada, a coragem pode ser atributo de santos ou calhordas e, assim sendo, não é a que nos interessa.
A Maçonaria, como escola de conhecimento voltada à realização moral do ser humano, tem um de seus mais caros princípios centrado na simbologia do levante dos templos à virtude. É por isto que o maçom, como pedra do edifício social que é a humanidade, deve buscar na coragem os elementos da sua ação.
Ao mesmo tempo em que o iniciado deve tentar se aprimorar pessoalmente, também deve se engajar no projeto de construção no projeto de construção de uma sociedade livre, justa e igualitária. Este procedimento obedece a uma lógica interessante e às vezes imperceptível aos Irmãos, qual seja, a de que os projetos pessoal e social são indissociáveis.
Isto porque a realização moral do indivíduo nunca será completa se persistir ao seu lado a injustiça, a fome e outras mazelas. Como o agir moral está sempre voltado à universalidade, ao bem comum, este mesmo agir não se esgota na esfera das vontades e conceitos particulares de cada um. Se o agir virtuoso visa sempre a Justiça, em todos os seus aspectos, sem a plena realização desta mesma Justiça no seio da sociedade continuaremos todos como virtuosos fracassados, por mais que nos pensemos como virtuosamente perfeitos. O homem só terá sucesso como um ser moral quando fora de si também triunfar o bem, a tolerância, a Justiça e outras virtudes. Ele é moralmente responsável por isto, e seu trabalho só se esgota quando pronto o projeto coletivo.
Esta breve fuga do tema se faz necessária pelo fato do conceito de coragem enquanto virtude, considerada como a soma de um traço psicológico do praticante de uma ação e de sua consciência em relação ao bem comum, conter a mesma lógica que deve pautar a conduta do maçom.
A coragem, enquanto virtude, pressupõe um fim. E este fim não é o homem individualmente considerado, mas sim o homem enquanto projeto universal que congrega as demais virtudes, e que carrega consigo ideia, mesmo que utópica, de uma felicidade passível de ser coletivamente compartilhada.
Como visto, a coragem só se transforma em virtude se a ação estiver voltada para uma finalidade generosa e desinteressada. Sem esse desapego a coragem traduz um traço de caráter dos homens, que lhes impulsiona os projetos e os atos. Pode tal coragem resultar em ações boas ou moralmente condensáveis, pois bons e maus conseguem enfrentar os mais terríveis medos.
A coragem com finalidades egoísticas (egoísmo aqui no sentido de procura de uma satisfação pessoal, seja fama, dinheiro, reconhecimento pessoal ou profissional etc…), pode gerar homens valentes, heróis, destemidos, mas nunca homens virtuosos no sentido moral que o termo virtude reclama.
A coragem se apresenta assim como um rigor sereno e firme nos enfrentamentos morais que decorrem das questões práticas. A coragem é que possibilita as demais virtudes. Por exemplo, o homem justo, sem a prudência e sem sabedoria, não saberia como combater a injustiça. Mas sem a coragem não se empenharia nesse combate. A coragem pressupõe dos homens integridade e honestidade intelectual, um apego ao que o senso comum impõe como intocável como fundamento moral, disto não podendo afastar-se. A coragem, neste sentido, traduz uma força de vontade que impede que o ser humano faça concessões no campo da ética nos enfrentamentos do dia-a-dia, sob pena dos interesses particulares causarem prejuízos aos conceitos éticos universalmente aceitos. Por isto a coragem é necessária aos justos.
A coragem que impulsiona o ser humano só se transforma em virtude quando este ato visa a construção de um mundo justo. Assim não sendo, é mero traço da psicologia particular do ser humano. Impulsionado por esse impulso, o homem não transforma nem a si nem ao mundo. Transformar a realidade exige coragem para impor ideias altruístas, resistir às injustiças e fazer o bem. Necessário para tanto a justa medida entre covardia e o destemor puro e simples. Se não arriscarmos algo pelo que mundo que idealizamos, não nos é dado o direito a nutrir esperança por nada.
O que está em jogo é a vida que queremos, e não a que nos é imposta por pessoas e grupos dissociados de um projeto voltado à felicidade coletiva, ainda mais se tivermos consciência de que isto, em alguma medida, implicara na morte dos valores mais caros, incluindo nossa liberdade. É preciso, portanto, resistir sempre, na medida de nossa coragem e da nossa consciência.
CONTRA TI ME ARREMESSAREI, INVENCÍVEL E PERSISTENTE, Ó MORTE! (Virgínia Woof).
Bibliografia:
Autor: Porto Lincoln, membro da ARLS Lara Ribas.
Fonte: JB News