O que se pode ver?
Basta, portanto, passar diante de uma escola ou colégio na hora da saída. Os jovens se atropelam, meninos e meninas misturados, mais apressados uns que outros ao passar pela porta e se reencontrar fora. A escola nos oferece seu fluxo da diversidade; diversidade social, étnica, cultural e, naturalmente, de gênero (sem mistura de idade e por uma boa razão). Depois, gradualmente formam-se grupos de fofocas, de amizade. O movimento se organiza por grupos de afinidade, onde se observa a separação de gênero, as meninas e meninos juntos, mas separados, formando pequenos bandos unisex, alguns namorados, embora testemunhas de uma proximidade mista ao redor deles, amiguinhos e amiguinhas. Com sua liberdade, a juventude se agrupa; os clãs se formam rompendo a diversidade do interior da escola.
Os professores saem um pouco mais tarde, a maioria são mulheres.
Vamos agora a um lugar da competição esportiva. Oh, mas as equipes participantes são exclusivamente masculinas ou femininas! Nada de diversidade no campo (exceto no tênis de duplas mistas). Os espectadores são em sua maioria homens.
Aqui estão dois exemplos das muitas questões que podem surgir sobre o tema da diversidade de gêneros.
O que precisa ser entendido por diversidade de gênero?
Em uma sociedade, a diversidade de gênero traz à mente imediatamente a noção de mistura com base em diferentes critérios: gênero, nível social, cultura, etnia, religião (ou não), associação a um compromisso político, nacionalidade …
No alvo de uma reflexão sobre este tema na Maçonaria, nos ateremos a somente um critério controverso, que é o do gênero.
Na sociedade ocidental ainda patriarcal no século XX, a diversidade de gênero é acima de tudo a vontade das mulheres de penetrar lugares reservados aos homens. Concretamente, trata-se de garantir o acesso das mulheres às mesmas oportunidades, direitos, oportunidades de escolher, condições materiais (por exemplo, acesso igual a cuidados médicos, à partilha de recursos econômicos, mesma participação no exercício do poder político) que os homens, ao mesmo tempo em que se respeitam suas especificidades.
Qual é o estado atual da diversidade de gênero?
A diversidade se impôs apesar dela, como uma “revolução silenciosa” em conjunto com a evolução dos costumes, sob a influência dos movimentos feministas, que especialmente a partir da década de 1970, pedem à sociedade que olhe para as mulheres de forma diferente. A sociedade torna-se gradualmente mista em todos os lugares de socialização e especialmente na escola.
Com os mandamentos elaborados pelo judaico-cristianismo, formalizando uma moral social, o homem procurou se dar, em primeiro lugar, deveres de socialização e depois direitos imanentes e superiores, direitos “inerente à sua pessoa, inalienáveis e sagrados”, direitos naturais e, assim, oponíveis em todas as circunstâncias à sociedade e ao poder, através de uma legislação que, hoje, coloca felizmente, em princípio, a separação de poderes religiosos e judiciais, a partir de uma base desenvolvida no século XVIII e que evolui ainda em nossos dias: a primeira geração foi aquela dos direitos humanos civis e políticos; em seguida, a segunda geração, a dos direitos econômicos e sociais; a terceira geração, a dos direitos de solidariedade; a quarta geração a dos direitos globais. Hoje, os princípios dos direitos humanos tornaram-se, na Europa, os direitos humanos consagrados na Convenção Europeia dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, comumente chamada Convenção Europeia dos Direitos Humanos.
A Convenção Europeia dos Direitos Humanos postula uma identidade de regras universais, pois elas se referem aos seres humanos. Como uma unidade, podemos dizer que encontramos com Convenção uma supra lei moral dos tempos modernos regendo os diferentes sistemas jurídicos nacionais. Ao contrário de moral religiosa que quer levar o ser humano a “viver juntos” e acima de tudo em direção a Deus, a moral dos Direitos Humanos protege o Homem contra a sociedade, para lhe permitir viver em igualdade e dignidade.
O artigo 14 da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, relativo à proibição de discriminação decreta o seguinte: “O gozo dos direitos e liberdades reconhecidos na presente Convenção deve ser assegurado sem discriminação alguma, em razão, designadamente, de gênero, raça, cor, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, pertença a uma minoria nacional, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição”. A igualdade entre mulheres e homens é uma visibilidade, um empoderamento e uma participação igual das mulheres e dos homens, e em todos os domínios da vida pública e privada. Assim, a Organização lutar contra todas as violações das liberdades e da dignidade das mulheres e tem como objetivo acabar com a discriminação baseada em gênero.
Em outubro de 2007, o Comité de Ministros aprovou uma recomendação visando incentivar a adoção de medidas para a implementação da abordagem integrada da igualdade entre mulheres e homens em todos os níveis dos sistemas educativos dos 47 Estados membros do Conselho da Europa.
Qual é a evolução da diversidade de gênero nos sistemas educativos?
Não nos esqueçamos que as meninas eram proibidas dentro de escolas de ensino médio em 1808. Não nos esqueçamos que foi preciso esperar até 1880 para que as meninas fossem admitidas no secundário e que a Lei Jules Ferry de 1882, que torna obrigatório o ensino para crianças de ambos os sexos dos 6 aos 13 anos, diz que instrução primária deve incluir “para meninos, exercícios militares; para as meninas o bordado“.
A diversidade de gênero será, então, uma das mais importantes revoluções pedagógicas na França. No entanto, ela se fez “sem mesmo que se prestasse atenção.”
A diversidade de gênero no ensino fez suas primeiras aparições com as grandes escolas nacionais:
1906, a Escola de Chartes; 1912, a Escola Normal Superior de ensino técnico de Cachan; 1917, a Escola Superior de Eletricidade; … 1920, a Escola Central e muitas escolas de engenharia; 1945, a Escola Nacional de Administração (embora com reservas à admissão de mulheres em determinados cargos). Até essa data, os Institutos de Estudos Políticos (até então reservados aos homens) abrem-se para as mulheres, assim como a Politécnica em 1970, HEC e St. Cyr em 1975, a Academia Naval em 1992.
A introdução de diversidade de gênero nas escolas é mais tardia e permanece tímida até a década de 1960.
A primeira escola mista é o colégio Marcellin Berthelot de Saint-Maur, fundado em 1937. Esta escolha responde, aliás, mais a motivações econômicas que ideológicas. Nesse meio tempo, durante o ano escolar 1958-1959, apenas 30% das escolas primárias são mistas.
A partir do final dos anos 1950, o governo promove a generalização da educação mista. Em 1959, em particular, o ministro da Educação nacional Jean Berthoin decide construir apenas escolas mistas. Os colégios de ensino secundário (CES) criados pela reforma Fouchet Capelle de 1963 são mistos desde o início. De toda forma, os colégios masculinos e colégios femininos ainda permanecem. A evolução da mentalidade é progressiva. Os opositores à diversidade de gêneros temem a distração dos alunos e apelam à seriedade do aprendizado escolar. Seus defensores, ao contrário, lembram a curiosidade doentia dos estudantes, exacerbada pela separação de gêneros e sustentam que a diversidade promove o enriquecimento intelectual mútuo e a formação de personalidades equilibradas. As meninas, que o veem nisso um passo no sentido da igualdade, também são muitas vezes mais dispostos a ir a escolas mistas do que os rapazes.
Finalmente, os decretos de aplicação da lei Haby de 28 de dezembro de 1976 tornam a diversidade de gênero obrigatória no ensino primário e secundário. Hoje, as instituições de mesmo sexo de ensino privado acolhem números muito pequenos de alunos.
Na França, só em 1982 o princípio igualitário de educação mista é afirmado oficialmente: um decreto de 12 de julho sobre a ação educativa contra os preconceitos de gênero vai além do conceito de diversidade e visa promover uma verdadeira igualdade de oportunidades para moças e rapazes e para eliminar qualquer discriminação contra as mulheres. Tratando-se de textos regulamentares, o Decreto nº 90-788 de 6 de setembro de 1990 sobre a organização e funcionamento das escolas maternais e elementares prevê, em seu artigo 6 que “as classes maternais e elementares são mistas”.
A “diversidade de gênero” ou “mista” raramente aparecem no texto, e estão ausentes do código de educação.
O Ministério da Juventude, de Educação Nacional e Pesquisa, no entanto, indicou que é possível “considerar que o termo aparece diversidade de gênero aparece nas entrelinhas em vários textos que evocam a igualdade entre homens e mulheres “.
Diversidade de gênero é o mesmo que igualdade?
Se a noção de igualdade não é incompatível com a noção de diferença, então podemos considerar que ela só está relacionada com a noção de diversidade der gênero. Dizer que o direito à educação deve ser o mesmo para meninas e meninos não significa que devemos colocá-los juntos ao mesmo tempo para receber aquela educação. O próprio legislador levou em conta esta diferenciação no ponto de usar os termos igualdade e diversidade de gênero separadamente no artigo 1, parágrafo 6º da Lei de 4 de agosto de 2014, para igualdade real entre homens e mulheres, que afirma que a política implementada deve assegurar a avaliação ” de ações para garantir a igualdade profissional salarial e a diversidade de gênero nos negócios e profissões. ”
A igualdade entre homens e mulheres leva a fazê-los viver juntos em todas as circunstâncias da vida?
Pode-se imaginar equipes esportivas profissionais como as de futebol ou rugby misturando homens e mulheres no campo; quem o faria? Mesmo assim, a justaposição de gêneros, não a igualdade de direitos e deveres, é, de fato, o debate dentro da Maçonaria, onde, no entanto, já existem potências mistas desde o final do século XIX.
Como a diversidade de gênero apareceu na Maçonaria?
No início do século XVIII, a educação, o poder e a representatividade eram unicamente masculinas e ainda se duvidava nessa época que uma mulher pudesse ter uma alma; na verdade, ela era legalmente considerada menor de idade e, portanto, não estava livre da autoridade de seu pai ou marido. Então, como imaginar uma mulher na Maçonaria! Nós entendemos melhor por que, nas constituições fundadoras, a maçonaria lhes era proibida. A Maçonaria era um reflexo da sociedade da época. A se notar que, naquela época, não havia naturalmente judeus na Maçonaria, uma vez que estes, como as mulheres, eram excluídos de direitos civis antes da Revolução Francesa. Nenhum regulamento maçônico precisava especificar o que ia além disso.
Foi no final do século XIX, na França, que aparecerá pela primeira vez uma verdadeira Maçonaria mista. De fato, até então, as formas femininas ou mistas de maçonaria permaneciam:
- anedóticas (alguns poucos casos isolados, como o de Elizabeth Aldworth [i])
- marginais (Maçonaria Egípcia de Cagliostro)
- sujeitas às lojas masculinas aristocráticas (as lojas de adoção)
- ou para-maçônicas em seus ritos e práticas (a Ordem da Estrela do Oriente [ii])
Além do caso excepcional de Elizabeth Aldworth (iniciada em 1712), não foi senão em 14 de janeiro de 1882 que a Loja Maçônica ”Livres Pensadores de Pecq” confere a iniciação a uma mulher, Maria Deraismes. Esta, mulher de letras reconhecida, jornalista comprometida era uma oradora talentosa. O evento é importante porque é a primeira vez que uma mulher é iniciada maçom com o ritual anteriormente reservado aos homens.
De fato, relata o jornal Le Matin de 4 de abril de 1893, esta foi uma cerimônia em que a postulante introduzida com os olhos descobertos no templo, viu por todas as provas, o venerável descer do Oriente, e vir apresentar seus respeitos”. A Grande Loja Simbólica Escocesa à qual pertencia a Loja, desagradada com esta a iniciativa, a colocou em dormência.
A iniciação de Maria Deraismes poderia ter sido apenas um episódio sem consequências. E isso só não aconteceu graças aos esforços do Dr. Georges Martin. Após janeiro 1882, Maria Deraismes não assiste a nenhuma reunião maçônica. No entanto, a ideia da admissão de mulheres na Maçonaria continua a fazer o seu caminho, defendida desde muito tempo por Leon Richer. Georges Martin, que é membro de uma oficina da Grande Loja Simbólica Escocesa fez duas tentativas de levar esta obediência a tomar a decisão: em 1890, ele propôs que sua loja “A Jerusalém escocesa” criasse, em paralelo, uma loja que admitisse mulheres. Em 1891 ele envia um pedido à GLSE para que cada loja dessa obediência seja livre para se determinar; em vão. Georges Martin decide agir de forma diferente: ele vai fundar uma loja mista independente e, assim, a partir de 01 de junho de 1892, Maria Deraismes reúne em sua casa um certo número de mulheres. Em 4 de março de 1893 elas tomam a decisão de criar uma loja mista. Isto será feito em quatro etapas: em 14 de março de 1893 procede-se a iniciação de 17 mulheres; em 24 de março e 1 de abril elas são elevadas ao 2o. e 3o. graus, em 4 de abril, a loja mista é criada. Ela assume o título distintivo da Grande Loja Simbólica Escocesa da França do Direito Humano; seus estatutos são arquivados em maio na prefeitura de Seine. Maria Deraismes é sua venerável, Clemence Royer, venerável honorário e Georges Martin, orador. O Rito Escocês Antigo e Aceito foi escolhido. A GLSE da França, como qualquer Grande Loja, inclui apenas os três primeiros graus. Para chegar a outros graus, ou seja, os Altos Graus, os maçons deverão procurar outra obediência. Oficinas são criadas em Blois, Lyon, Rouen, Paris e Zurique. Em 16 de maio de 1896 os estatutos são modificados. A obediência se torna GLSE Mista. Podia então parar por ali, comente com os três primeiros graus? Em 1899, o irmão Decembre-Allonier confere o grau 33 a dez maçons do Direito Humano, o que permite, em maio de 1899, constituir um Supremo Conselho. Em 1901, a GLSE Mista deu lugar à Ordem Maçônica Mista e Internacional do Direito Humano administrada pelo Supremo Conselho. À diversidade de gênero e o internacionalismo se acrescenta a continuidade iniciática, pois todas as oficinas do grau 1 ao grau 33 se reúnem em um mesmo conjunto piramidal.
As mulheres, ou melhor a diversidade de gênero penetrou na fortaleza maçônica; eles agora têm o título de irmãs.
E desde então, existem outras potências mistas?
Será preciso esperar até fevereiro de 1973 para observar a criação de uma outra obediência mista. Três lojas do Direito Humano, “Lucie Delong”, “Marie Bonnevial” e “Le Devoir”, seguidas por uma centena de membros, abandonam a rue Jules Breton e fundam uma nova obediência, a Grande Loja Mista Universal. A direção deste grupo é assumida pela Irmã Eliane Brault e o irmão Raymond Jalu.
Em 1982, uma cisão ocorrerá na Grande Loja Mista da França.
Mas deve-se observar que, nesse meio tempo, duas potências estritamente femininas, a Grande Loja Feminina da França (1952) e a Grande Loja Feminina de Memphis Mizraim (1971) são criadas.
Para fazer o que com a diversidade de gênero?
Tentemos identificar como as potências mistas abordam sua especificidade.
Desviando-se de sua apresentação, certas potências mistas consideram tão natural associar homens e mulheres em lojas, que elas não se justificam como mistas. Eles aparecem como tal, seja porque elas se declaram, como o faz a Grande Loja Mundial de Misraim“, “é uma Ordem (mista desde 1785)”, ou porque os seus membros são designados por “irmãos e irmãs”.
Grande Loja Mista Universal: A diversidade de gênero é afirmada como total. O desejo de estabelecer a igualdade entre homens e mulheres implica para nós a escolha de um trabalho comum, e por isso nossas Lojas são mistas.
Ordem Iniciática e Tradicional da Arte Real: As lojas da OITAR podem ser masculinas, femininas ou mistas. De fato, uma grande maioria das Lojas desta potência são mistas. Todas as Lojas mistas ou não mistas são obrigadas a receber, sem discriminação, qualquer visitante, Irmã ou Irmão, reconhecido como maçom regular.
Grande Oriente Tradicional do Mediterrâneo, precisamente reconhece a iniciação feminina, em nome da dimensão universal da Maçonaria.
Grande Loja Independente e Soberana dos Ritos Unidos: A diversidade de gênero é uma posição de princípio, fundada no reconhecimento da complementaridade entre homens e mulheres e, portanto, sobre o enriquecimento mútuo que cada metade da humanidade pode, e deve trazer à outra. “Para nós, trata-se, portanto, de valorizar a prática da diversidade de gênero, graças à qual Irmãos e Irmãs, sem se prevalecer, mas também sem negar os valores próprios de seu gênero, beneficiam-se do confronto de diferenças. Por uma abordagem iniciática comum, eles afirmam assim seus caráteres específicos, sem cair jamais em um nivelamento assexuado destinado a apagar toda particularidade. No entanto, levando em conta o respeito à tradição, a diversidade de gênero de nossas oficinas respeita as regras próprias de cada rito. Assim, as Lojas colocadas sob a autoridade do Regime Escocês Retificado são estritamente masculinas conforme exigido pela tradição desse rito e é, obviamente, evidente o mesmo para o Rito Feminino, diz Constante Chevillon, cujo próprio nome circunscreve bem a quem é oferecido. ”
Mistas sim, mas não demais, centrais nucleares, sim, mas não grandes demais!
De fato, vemos aqui a relação ambígua do princípio da diversidade com a noção de ritual.
A exclusão das mulheres tornou-se uma fraqueza, um arcaísmo, uma fixação neurótica. “Enquanto os Irmãos “três pontos” se gabam, na esteira dos movimentos feministas dos anos 1960 e 1970, de ter contribuído para a liberalização da contracepção e do aborto, a proporção de mulheres nos templos não passava de 9 a 17% depois de trinta e cinco anos, sendo 7 a 13% de maçons em lojas mistas, e de homens em lojas mistas de 3 a menos de 8%! Isto significa que se, sob o avental, o “sexo forte” julga perturbadora a companhia do “belo sexo”!
A diversidade de gênero cria polêmica nas potências masculinas?
As discussões sobre o GADU, engajamento político, segregação racial e, claro, a diversidade de gênero constituem as principais razões de cismas sobre a regularidade maçônica.
A consideração de irmãs elas chamados potências liberais é adquirida, eles são até mesmo recebidas nas lojas do GO desde 1974.
Hoje, a exclusão sistemática das irmãs de visitas a lojas masculinas liberais ainda existem com várias escalas de valor, embora o reconhecimento das potências mistas e femininas seja admitido por um lado e pelo outro.
O Grande Oriente da França, antes de iniciar mulheres, tinha 30% de suas lojas que recusavam a visita de Irmãs, seja durante suas sessões, ou para uma cerimônia como a iniciação. Mais ainda, em 2008, o GO suspendeu 169 de seus membros por ter iniciado seis mulheres em cinco oficinas daquela potência. O Grande Oriente optou por deixar cada Loja livre para decidir se aceita ou não a visita de irmãs.
A GLDF – Grande Loja da França não recebe irmãs. Eles inventaram por volta de 2010, um “ritual especial” a fim de as receber.
A GLTSO só recebe irmãs da GLDF, mas trabalhou e organizou por volta de 2005, sessões comuns com potências mistas ou femininas.
A GLAMF e a GLIF não reconhecem nenhuma obediência mista e feminina. Consequentemente, no caso delas, é inútil fingir que visitação recíproca seria possível para as irmãs. O mesmo vale para a Grande Loja Nacional Francesa – GLNF.
O reconhecimento das irmãs não é um objetivo maçônico, mas uma escolha das potências.
O debate relativo à maçonaria liberal não se situa, portanto, sobre o reconhecimento de irmãs (como ocorre com a existência de potências mistas), mas sobre o seu direito à iniciação nas diferentes potências que, embora reconhecendo o seu direito de ser maçons, ainda lhes proíbem esta cerimônia.
Já em 1869, o Irmão Frédéric Desmons, pastor e venerável da Loja de Saint Géniès de Malgoirès, na província de Gard e depois Grão-Mestre do Grande Oriente da França manifesta a esperança de “que no futuro, as mulheres sejam admitidas no seio das oficinas e possam participara dos trabalhos. ” O Conselho da Ordem do Grande Oriente da França se recusa. Lembremo-nos de passagem que é também o irmão Frédéric Desmons que fez votar pelo Grande Oriente da França a supressão da obrigação de acreditar em Deus e na imortalidade da alma para solicitar a iniciação maçônica.
Em 22 de janeiro de 1961, a CLIPSAS (Centro de Ligação e Informação de Potências Maçônicas signatárias do Apelo de Estrasburgo) foi formada por chamado do Grande Oriente da França e de outras onze potências maçônicas soberanas que, movidas pela intransigência e exclusões que elas consideravam abusivas de determinadas outras potências, lançaram um apelo a toda a Maçonaria mundial, para reuni-las no respeito por sua soberania, seus ritos e seus símbolos.
Os princípios fundamentais desse grupo de potências diferem dos princípios básicos ingleses e dos landmarks norte-americanos, em dois pontos essenciais: O princípio de uma fé necessária em Deus (ou similar) é substituída pela da “liberdade absoluta de consciência.”
Mas acima de tudo, no que diz respeito os nossos propósitos, este grupo não impede o reconhecimento de potências femininas ou mistas.
Nestes tempos de recuperação midiática para a Maçonaria, com semana especial sobre França Cultura, difusões e transmissões nos principais canais de radiodifusão, cobertura de todos os principais semanários, passeata em apoio … uma pergunta inevitavelmente volta à baila: a proibição de iniciar mulheres no Grande Oriente da França.
O convento de 2009, que reuniu em Lyon delegados das 1.200 lojas do GODF, pronunciou-se pela última vez a 56% contra a diversidade de gênero nas lojas.
Esta votação foi cancelada por questões de forma. Uma comissão de especialistas finalmente admitiu que “homens livres e de bons costumes” designados nos estatutos da obediência na época do Iluminismo, não deviam ser entendidos no sentido masculino do termo.
em 22 de janeiro de 2010, em um comunicado à imprensa, o Conselho da Ordem do Grande Oriente torna oficial a mudança de estado civil de Olivia Chaumont. Esta, regularmente iniciada em 1992 como homem na Loja “Universidade Maçônica” torna-se após a sua trans-identidade, a primeira mulher oficialmente membro do Grande Oriente da França desde a sua criação. Instalada venerável sua loja, ela foi eleita delegada de sua loja, fazendo entrar, então, a diversidade de gêneros no Convento realizado em 02 de setembro de 2010 em Vichy [iii]. Durante esta convenção, por uma estreita maioria de 51,5%, os membros do Grande Oriente da França (GODF) tomam a decisão de iniciar mulheres. O passo foi dado na quinta-feira, 3 de setembro, pelos 1150 delegados das lojas do Grande Oriente.
Embora o regulamento não especifique e em aplicação do princípio da liberdade das lojas que preside igualmente para as visitas de irmãs, o Grande Oriente, agora deixou as lojas livres para iniciar mulheres ou as filiar segundo as modalidades que se apliquem a todos os membros masculinos do Grande Oriente.
Não se pode dizer que o GO se tornou misto; o que prevaleceu é a liberdade das lojas como única solução maçônica: que nenhuma [loja] tem a pretensão de impor às outras a sua própria escolha iniciática, uma vez que todas [as lojas] respeitam os princípios e os estatutos da associação que as federa. Imaginemos que por um acaso digital, uma oficina seja predominantemente feminina e, posteriormente, se recuse a iniciar homens, teremos em breve, lojas estritamente femininas no GO?
O artigo aprovado esta semana prevê que “não se pode mais recusar quem quer que seja na obediência, por qualquer tipo de discriminação que seja, incluindo o gênero“. Até hoje, “irmãs” podiam ser acolhidas como visitantes, mas não podiam ser iniciadas no âmbito da principal obediência maçônica da França, que reivindica cerca de 50.000 membros.
Podia ela filosófica e legalmente negar aos membros de lojas de uma associação indiferente ao gênero, o direito de iniciar as mulheres? Obviamente que não. Nós não podemos mais, em tal associação, negar o direito a certas Lojas de receber apenas homens, desde que eles não imponham essa “regra” em particular, a toda a obediência.
Esta decisão do Convento provocou algumas centenas de transferências e demissões de irmãos descontentes do GO. Não podemos nem mesmo entendê-los em uma reflexão sobre o destino das grandes minorias nas votações que modificam seus horizontes e que não são unânimes. A decisão democrática não é suficiente para garantir a sua legitimidade quando o consenso é tão pouco claro, mas a sábia decisão do GO permite espaços de iniciação em oficinas que escolhem o seu modo de funcionamento. Como se diz “vítima” no masculino?
Além disso, de acordo com o relatório de atividades do executivo do GODF publicado em 31 de março de 2013, a partir de 2008, a data de início das iniciações, a associação recrutou 1403 mulheres, sendo 45,54% por meio de transferência de obediência a obediência e 54,46% por recrutamento direto.
Com mais de 50.000 membros, a GODF é a principal obediência maçônica na França.
Porque o GODF se afirma fortemente progressista, com membros vindos principalmente das fileiras da esquerda, e se afirma na vanguarda das lutas por isso é que que seu lema desde o século XIX é: liberdade, igualdade, fraternidade, entendemos, a partir daí, que uma conquista do feminismo encontra ali um terreno fértil para a semeadura. A abertura do GO às mulheres, com suas 1.300 lojas irrigando todo o país, presente em cada cidade, quase cada cantão da França, oferecendo a mais ampla variedade de ritos (o GO é uma federação de ritos), dá certamente um verdadeiro impulso à chegada de mulheres na maçonaria com, em especial, a abertura para mulheres vindas de outros horizontes, além das categorias mais urbanas e qualificadas que atualmente predominam nas obediências que as iniciam.
Esta perspectiva constitui a reflexão de alguns membros proeminentes do Direito Humano, uma concorrência no recrutamento de novos membros, com o medo de uma rivalidade discriminatória. O poder, tanto financeiro quanto espiritual, de uma obediência é também devido aos seus membros!
Quais são, ainda, as relutâncias à diversidade?
O ”última palavra ” avançada em 1884 pelo jornal Le Matin enfatiza … os bons costumes! “Vocês veem, especialmente nas províncias, vinte homens e tantas mulheres reunidos em um salão, onde nenhuma pessoa não-filiada podia ver o que se passava, era o golpe que as boas línguas da localidade conversariam com gosto. ”
Se eles se prestam a sorrir este propósito anuncia a satisfação, ainda hoje, que as esposas (companheiras) ou esposos (companheiros) têm de saber que só nos encontramos entre homens e mulheres para trabalhar à noite em loja. Afinal, sexualizar as pessoas é também sexualizar as relações! Portanto, nada de diversidade de gênero, para maior tranquilidade conjugal.
Não nos esqueçamos que Georges Martin, fundador do Direito Humano, excluía as irmãs da Grande Loja Simbólica Escocesa No. 2, porque ele não podia verificar a moralidade delas.
Esta presença do sexo oposto durante as sessões é percebida pelos próprios membros como perturbadora. A concentração no único trabalho em sessão pode ser desviada pelo charme que inspira a presença do outro sexo. Esta presença por si mesma, os reduziria a uma dimensão do preocupação e desejo, a uma espiral de luxúria incompatível com os trabalhos filosóficos realizados em Loja.
A acreditar em Jean-Francois Remond, a diversidade de gênero seria uma operação de apagamento, introduzindo um discurso de ordem moral, ao final do qual se deveria abster de abordar qualquer assimetria (e particularmente aquelas relacionadas com a diferença entre os gêneros) como inconveniente ou negligenciável. A diversidade de gênero neste caso seria apenas uma operação de censura politicamente correta.
O problema não é, aliás, o da emoção. Com o devido respeito aos irmãos, aqui está o que dizem irmãs de uma obediência feminina: obviamente, há os visitantes, mas aqueles por vezes incomodam, porque eles são barulhentos, não respeitam as regras, intervêm completamente equivocados e com muita segurança, por vezes no estilo gascão, bebem excessivamente, e flertam.
Mais profundamente, se suas estruturas administrativas cumprem as regras da lei das associações de 1901 e que ela apela aos seus membros a participar plenamente na vida da cidade, a Maçonaria, em sua essência se define como uma experiência, tanto íntima quanto atemporal, mais próxima da psicanálise, das fraternidades medievais e antigas iniciações, do que de nossos partidos e sindicatos contemporâneos.
Uma vez que o percurso Maçônico se situa no registo do esotérico ou do ritualismo para alguns, da psicanálise ou da pesquisa filosófica pessoal para outros, tais recusas não têm que se justificar: todos são livres da forma de suas reflexões íntimas. Porque, sim, a Loja faz, sem dúvida. parte do íntimo de cada um dos seus membros, o trabalho coletivo sobre si mesmo sendo a esse preço …
Se este raciocínio pode parecer chocante, em total contradição com as posições tomadas pelo GO fora do Templo, ela não é menos na pura lógica maçônica, sociedade que se vê simbolicamente detentora de experiências seculares.
Considerando sua loja como um espaço privado, até mesmo íntimo, vivendo sua iniciação como pertença a uma comunidade fora do campo social, estes últimos também ativistas ou ativos em muitas associações, vêm justamente procurar um espaço de reflexão coletiva, mas íntima que não reproduza necessariamente a fisionomia da cidade de onde eles querem se afastar por um momento. Um certo número de maçons do GO ainda se recusam a trabalhar em loja com mulheres, sem que isso seja implacavelmente contra uma evolução da obediência.
Se este argumento não responde necessariamente pela negatividade da diversidade de gêneros na Maçonaria, ele agrega, incontestavelmente, nova luz ao debate!
Convém, de fato, separar bem o que pertence à ideologia da maçonaria liberal, muito progressista, e à “jornada maçônica” em si, mais íntima e menos subordinados às regras sociais.
E é forçoso constatar que, neste contexto, muitos desses novos maçons buscam justamente um discurso puramente masculino (ou feminino) para esta busca interior.
Muitas mulheres maçons reivindicam ainda este estar-entre-si que permite nas lojas exclusivamente femininas, “abordar o Universal a partir da singularidade feminina”, para usar as palavras de muitas delas.
E agora, imagine o desconforto de maçons, ingressados na base de uma estrutura de gênero único, a quem é anunciado que, doravante, eles deverão compartilhar todas as suas sessões no contexto de uma loja mista. Suas escolhas iniciais não têm mais sentido. Por lei, eles não podem considerar que houve quebra de contrato? Escolher uma potência, ou uma oficina masculina (ou feminina) é uma decisão que implica uma cláusula estimado implícita – rebus sic stantibus – (as coisas permanecendo no estado em que se encontram).
Passar à diversidade de gênero é uma modificação tal que, sem o consentimento dos interessados, a rescisão do compromisso é logicamente aberta. Se a diversidade de gêneros se tornasse imperativa em todas as lojas, não haveria lugar para acolher estes ou aqueles que, contra esta eventualidade, desejam definitivamente continuar seu trabalho iniciático em um ambiente protegido contra a diversidade.
A questão da “preferência” teria se tornado questionável em nome da diversidade de gêneros? O significado de um pensamento único seria o árbitro do “coletivo” íntimo dos membros, que ainda têm o direito de decidir e fazer valer sua liberdade de se encontrar sob as condições que lhes convêm.
Para muitos irmãos e irmãs, introduzir a diversidade de gêneros em suas lojas de gênero único, não significa continuar a Loja, expandindo-a, mas significa inventar um outro tipo de sociabilidade maçônica a que eles (ou elas) não estão inclinados. Assim se expressa Charles Arambourou em seu excelente artigo “Diversidade de Gêneros? – Não: liberdade das Lojas“: “Eu exijo nos termos da lei a possibilidade para toda Potência, ter o fato da identidade de gênero como suficientemente determinante para escolher um único gênero. Eu o reclamo com tanta ou mais força que o que eu chamo de uma característica determinante não estabelece a discriminação porque, uma vez mais, as potências propõem também um tipo de sociabilidade mista “.
Os rituais só são convenientes para um determinado gênero em particular?
A Maçonaria é mais uma comunidade pneumática que um clube, porque ela também afirma assumir a transmissão de uma tradição dupla: a dos maçons “francos, ou livres” e, portanto, do “mestier”, tradição fundada sobre uma interpretação do mito de Hiram, o construtor do Templo de Salomão, acoplado a outro relacionado com o mito fundador, a cavalaria Templária, que formam um fundo arquetípico e paradigmático, com, neste caso, seus ritos, seus mitos e especialmente o seu processo iniciático.
Na verdade, ela é uma das raras sociedades iniciáticas que propõem no Ocidente uma via para vencer a morte. Este método particular é baseado no simbolismo e raciocínio por analogia. Estes são seus verdadeiros valores universais que a ligam ao que Jacquart chama “a humanidade”.
Eu me coloco a questão de saber o que a convivência de homens e mulheres pode trazer a mais para os ritos, os mitos, o sistema iniciático. Será que falta introduzir, paralelamente, uma lenda fundadora em que uma mulher seria a heroína? Hiram poderia ser uma mulher! Afinal, a suposição mais curiosa sobre a identidade de Hiram já foi feita pela misandra Céline Renooz em seu livro “A era da verdade (História do pensamento humano, evolução moral da humanidade através das épocas e entre todos os povos) ” publicado em 1925, alegando que, de fato uma mulher, a filha do rei de Tiro se escondia sob o nome de Hiram. Com base no texto hebraico da Bíblia marcado pela feminização dos adjetivos que descrevem o rei Davi, Renooz considera também curiosamente que, na verdade, ele foi uma rainha, chamada Daud, que fundou a cidade de Jerusalém e começou a construir ali um Templo. A rainha Daud não foi a única a fundar a instituição secreta que devia se propagar através da Maçonaria. Ela tinha duas colaboradoras, duas Rainhas-Magas (ou mágicas), com quem formava o tríptico sagrado que os três pontos da Ordem representaram depois. Uma delas é Balkis, rainha da Etiópia (chamada de Rainha de Sabá), a outra é uma rainha de Tiro, que estava escondida atrás do nome de Hiram. Esta rainha de Tiro sendo Elissar ou Dido.
Seria preciso encontrar princesas, cavaleiras, os “pontífices”, inspetoras, soberanas escondidas nos títulos dos altos graus escoceses?
Tradição contra o “entrismo” feminino!
O que é a diversidade de gêneros em uma sociedade iniciática?
Colocadas na entrada do templo maçônico as duas colunas abrem a passagem sobre um simbolismo que não para de fazer correr muita tinta e produzir muitas interpretações. Concebidas como macho e fêmea, estas colunas se inscrevem naturalmente em uma reflexão sobre a diversidade de gêneros.
A mensagem destas duas colunas é uma advertência à presença conjunta de irmãos e irmãs em sessão? Os textos não dizem que elas são simétricas nem semelhantes. Uma das colunas é descrita pela sua altura, a outra pelo seu diâmetro. Estabelece-se assim uma correspondência, uma alteridade sem identificação, daquela que é alta daquela que é larga. Isso é afirmar a diferença, manter e deixar livre a dimensão da estranheza e do outro lugar. Isto significa que a outro não é sempre a mesma. O outro não é de modo algum, oposto ao seu outro. A alteridade, a presença do outro, em si mesmo uma diversidade de gêneros, e não é indispensável ter, para isso, considerações que se situam abaixo da cintura. As colunas são separadas, uma ao lado da outra. Porque separadas elas traçam um limite entre duas polaridades. Cruzá-las para entrar no Santuário, é se deixar irradiar pela magia da passagem ao meio que realiza a síntese do princípio macho e do princípio fêmea abertos ao mundo superior da unidade.
A diversidade de gêneros no ser se impõe como interpretação da obra de Hiram.
Pela percepção simbólica de uma origem única que se diferencia apenas na percepção humana, o maçom pode se apegar a ver mais longe do que com o único olhar maniqueísta do profano, deixando de se submeter a toda afirmação moralista ou dogmática.
O que é chamado “mental” é o mundo em movimento, intermediário entre o corpo terreno e o espírito de natureza universal: ele é feito de troca de nossas emoções, de nossa imaginação, de nossos pensamentos que temos com o universo e conosco mesmos, ele é chamado segundo as metamorfoses e as transformações. Eu sinto que Platão diz a mesma coisa em seu Theaetetus nesta passagem onde ele mostra que a percepção que afetam nossos cinco sentidos não pode exceder o que ela é. Ele escreveu: ”É em suas abordagens mútuas que todas as coisas nascem do movimento sob formas de todos os tipos, porque é impossível conceber firmemente o elemento ativo e o elemento passivo como existindo separadamente, porque não há nenhum elemento ativo, antes que ele seja unido ao elemento passivo … De tudo isso resulta que nada é em si, a não ser uma coisa que se torna outra e que é preciso de tudo retirar a palavra ser … É preciso dizer, de acordo com a natureza, que ela está se tornando, está se fazendo, está se destruindo, está se alterando‘. O mental flutuante do mundo sensível e dual não pode, portanto, se aproximar do Um universal e, por isso, não podemos atingir esse nível de unidade somente pelo mental. Esta concepção está na filosofia oriental que conclui “não é pelo pensamento de que se atinge o Caminho“. Afinal, se a Energia é o único caminho, e a Razão o terminal de circulação da Energia, cada um deve escolher estar no centro das coisas ou na sua periferia.
Será a diversidade de gênero uma androginia?
Para o alquimista, o mundo é andrógino, em princípio, não hermafrodita, mas andrógino, de uma reunião em si mesmo e de uma síntese de todos os opostos. Trata-se de restaurar um isomorfismo entre o macrocosmo e o microcosmo, entre o seu e o meu. Este símbolo deve ser entendido como um estado de plenitude. No limite, ele se substitui ao vir a ser, escapa e toca a morte terrena das fronteiras das origens.
Pode-se tomar como exemplo dessa diversidade absoluta de gêneros, o pleroma hebraico da árvore da vida.
Em termos extremamente simplificados pode-se dizer: o pleroma é um símbolo que representa 10 Sephirotes dispostas numa determinada ordem e ligadas entre si por trilhas. Estas representações da relação da Divindade com o cosmos estão dispostas em três colunas verticais, a da direita chamada masculina e a da esquerda feminina, e a do centro é a do equilíbrio.
A primeira sephira, esfera de manifestação, é colocada mais alto do que as outras no pilar do meio. Ela se une com a segunda sephira do pilar à direita e ela própria se une sobre o mesmo plano à terceira Sephirah no pilar esquerdo formando assim um triângulo, dito triângulo supremo. Esta triangulação surgida do nada, da origem, é muito especial. É o começo. É como uma frase ou ideia em germe, mas que só encontrará a realização, em uma fase posterior: uma ideação do universo.
Kether, se traduz por coroa, a primeira Sephirah é colocada, assim, no cume, no início da manifestação primordial. Ela representa um tipo de cristalização primitiva daquilo que até agora não foi manifestado e permanece incognoscível por nós.
Não existe em Kether nenhuma forma mais exclusivamente da intenção pura, que ela pudesse ser: é uma existência latente separada por um grau da origem, do não-ser; do Aïn-sof. Esta sephira contém tudo o que foi, é e será. Ela é aquela-que-é. É com a existência manifestada nos pares de opostos que esta unidade terá um sentido acessível, mas em Kether ainda não há diferenciação alguma. Ela permanece ela mesma nela mesma. Essas diferenciações que no-las tornam inteligíveis somente aparecerão Chochmah e Binah, nomes da segunda e terceira Sephiroth, tiverem emanado. Kether é a mônada existente sem atributos notáveis, embora os contenha todos. Por isso, ela contém as potencialidades de todas as coisas. Não podemos definir Kether, só podemos nos referir a ela. A experiência espiritual atribuída a Kether é chamada União com Deus: objetivo e fim de toda a experiência mística ou alquímica. Não é surpreendente localizar aqui como virtude, aquela da realização, da conclusão da grande obra alquímica, o retorno final. O ponto porque ele não tem dimensão é naturalmente associado a ela como um símbolo referente. Mas encontraremos outros títulos para ela, tais como Existência das existências, o ponto primordial, o ponto no círculo, o macroposopo inicial, a luz interna, Ele, a cabeça branca e seu arcanjo é Metatron.
A energia de Kether se desdobra e este dinamismo primeiro, este ponto em movimento traça uma linha que vai em direção à segunda sephira chochmah: a Sabedoria. Esta expansão da força não-organizada e não compensada seria, antes, uma energia incontrolável: o grande estímulo do Universo. Mas é impossível compreende-la sem associa-la a Binah terceira sephira da árvore e primeira sephira organizadora e estabilizante, Binah: a compreensão. Se os títulos dados a Chochmah são Ab, o Pai Supremo, Tetragrammaton, IHVH, Yod do Tetragrama (muitas vezes representada em francês ela letra J) e se os símbolos ligados a ela são o falo, o lingam, a pedra que mantém de pé, a torre, a vara do poder que se veste, não ficaremos surpreso ao ver e entender em Binah (a compreensão), ima, a mãe sombria Elhoim, a brilhante mãe fértil, o Grande Mar, Mara, raiz de Maria e reconhecê-las na taça, o cálice, o Yoni, a roupagem exterior de dissimulação (termo Hindu e gnóstico que designa os órgãos sexuais da mulher).
Assim, Kether é o ser puro, todo-poderoso, mas não ativo. Quando uma atividade dela emana, o que chamamos Chochmah é um fluxo descendente de atividade pura, que é a força dinâmica do universo e que se estabiliza em Binah. Ele então toma forma em Binah. A Unidade de Kether é uma mônada dando a si mesmo a ver em duas Sephiroths. Elas formam assim a tríade Suprema. A unidade do início, em seus dois aspectos diferenciados pode ser representado por um triângulo: Kether, Chokmah, Binah.
O Delta de nossos templos é um triângulo deste tipo? Sim, nós ainda diríamos que fixamos aqui a tríade supremo, mas é também a mônada pitagórica. Nosso Delta é a consubstancialidade do Espírito manifestado (a energia), a matéria (a forma) e do universo seu filho. Ele é colocado no lado dos mundos superiores, quer dizer para nós no oriente. No outro extremo, no mundo da formação, considerado inferior porque mais distante da origem, temos o mesmo simbolismo. Sob uma outra forma, J e B representam, na fase do mundo da dualidade, os dois aspectos diferenciados, mas separados da unidade ideal do Delta que os contém em ideação onde eles se ainda se encontram reunidos na perfeição andrógina. Pode-se dizer que a partir do topo do Delta passando pelos seus pontos baixos, ligado às colunas do Templo são traçados os pilares da árvore da vida, onde os IIr.’. e IIrmãs.’. são ao mesmo tempo as esferas de luz e os caminhos pelos quais se atualiza a transcendência.
É uma geografia sagrada que o iniciado terá que remontar partindo do limiar até a coroa como um Cavaleiro para se unir à sua Rainha. Note-se que na árvore da vida, o primeiro sephira partindo de baixo (a última na manifestação) é chamada Reino.
É dizer e repetir que somos macho e fêmea, como imagem da criação. É uma consubstancialidade da unidade vista em seus aspectos diferenciados, mas é a unidade que ainda é uma questão.
Como a diversidade de gêneros é encarada nas diferentes potências?
Grande Oriente da França (GODF): 50.000 membros, 2,6% irmãs.
Federação Francesa do Direito Humano (FFDH) 17 000 membros, 67% irmãs.
Grande Loja Mista da França (GLMF): 4.900 membros, 45% irmãs.
Grande Loja Europeia da Fraternidade Universal (GLEFU): 2.400 membros 22,5% irmãs.
Grande Loja Mista Universal (GLMU): 1.400 membros, 52% irmãs.
Ordem Iniciática da Arte Real (OITAR): 1.200 membros, 50% irmãs.
Grande Loja de culturas e espiritualidades (GLCS): 900 membros, 30% irmãs.
Grande Loja Simbólica da França (GLSF): 550 membros, 47% irmãs.
Grande Loja Francesa de Memphis-Mizraim (GLFrMM): 500 membros, 25% irmãs.
Grande Loja iniciática soberana de Ritos Unidos (GLSRU): 280 membros, 45% irmãs.
Grande Ordem Tradicional do Mediterrâneo (GOTM): 140 membros, 33% irmãs.
Conclusão
Na França, nas palavras de Bruno Etienne, a Maçonaria produziu duas maçonarias que convivem, volens nolens durante três séculos, mas que parecem prestes a se chocar hoje. A primeira tem por slogan “liberdade, igualdade, fraternidade” e pretende participar ativamente na construção da sociedade ideal. A segunda tem por divisa “força, sabedoria, beleza” e prefere trabalhar na construção do Templo da Humanidade a partir da construção do templo interior através do domínio do ego.
Uma é extrovertida, progressista, mundana; a outra é voltada para o interior, progressiva e mística. Alguns pensaram que poderiam, sem esquizofrenia excessiva pertencer a ambas as tendências.
Na verdade, apropriando-se do monopólio da interpretação republicana, identificando-se com a única República monista, a Maçonaria arrisca perder a sua capacidade de orientar o neófito para a iniciação em favor de uma inclinação nas correntes à moda do mundo secular.
A diversidade de gêneros não pode ser inevitável, ela só pode ser, dentro de cada oficina, um consenso unânime, anunciado claramente para que aquele que vem em direção à Maçonaria possa ter a escolha de seu engajamento, sem o qual a palavra liberdade nada mais seria que um chamariz.
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[i] Nascida em 1693, seu pai e seus irmãos eram maçons aristocratas, em County Cork, Irlanda. Em 1712, quando Lord Doneraile, seu irmão, era venerável, sua loja organizava suas sessões dentro do domicílio da família. A jovem tinha assistido a uma sessão maçônica, graças a um buraco em uma parede em construção, em uma biblioteca adjacente à loja. Tendo sido surpreendida, seu caso deu lugar a uma reunião de mais de duas horas, depois da qual foi decidido oferecer-lhe a escolha entre a iniciação e a morte. Ela aceitou a iniciação e teria permanecido membro da loja até sua morte na idade de 95 anos
[ii] Nos EUA, um maçom de Boston chamado Robert Morris fundou em 1850 uma ordem mista de inspiração maçônica, chamada Ordem da Estrela do Oriente, que se abriu às mulheres, desde que fossem filhas, viúvas, esposas, irmãs ou mães de um maçom. Esta ordem, que ainda existe, conheceu um grande sucesso nos EUA, mas dificilmente se desenvolveu fora dali. Ele fornece educação baseada na Bíblia e se ocupa principalmente com atividades morais ou de caridade.
[iii] O local foi escolhido para evocar a dissolução de sociedades secretas pelo marechal Pétain, exatamente 70 anos atrás.