A Maçonaria, cuja originalidade consiste em misturar ritual e reflexão, tradição e modernidade, simbolismo e solidariedade, não escapou do mito. Ela tem uma dúzia de histórias ou referências míticas que ela emprestou do fundo cultural judaico-cristão e que lhe permitiu desenvolver uma visão particular do mundo.
Em relação à mitologia clássica, ela selecionou seus temas preferidos: ela não destaca Édipo, Sísifo ou Eros, Zeus ou os Titãs, Orfeu e o submundo, belas deusas e ninfas imprevisíveis, heróis metamorfoseados, monstros fabulosos ou histórias de amor e incesto. Mas encontramos o crime (assassinato de Hiram), tantas vezes presente nas relações entre os deuses pagãos; encontramos a questão da transmissão do conhecimento (as duas colunas) colocada por Prometeu ou Hermes; encontramos a culpa do homem envolvendo a vingança de Deus (o Dilúvio e a Torre de Babel).
Basta dizer que a mitologia maçônica, apesar de dimensões restritas, não pertence menos à mitologia universal. Ela pode se articular em torno de três eixos: primeiro, a construção do Templo, imagem fantasista do templo de Salomão. Este edifício é tanto o próprio templo interior de cada maçom que deve dominar sua natureza, e o templo exterior representado pela Cidade ideal; em todos os casos, assume-se que permanece inacabado. Em segundo lugar, a lenda de Hiram, transposição de múltiplos arquétipos, retomada parcial do mito de Ísis e Osíris, símbolo da transcendência diante da finitude humana, realização de um destino e esperança de uma ressurreição. Finalmente, o mito de cavalaria que não só penetrou o ritual desde o grau de aprendiz (cerimônia de iniciação), mas também promove os valores tradicionais atribuídos a esta instituição: honra, coragem, lealdade, generosidade, altruísmo. Tal como o conjunto da sociedade, o fascínio cavalheiresco também permeia a Maçonaria.
Fonte: https://bibliot3ca.wordpress.com/a-sombra-dos-mitos-sinais-de-reconhecimento-segredo-fraternidade/