O uso tradicional das Luvas utilizadas na Maçonaria tem uma relação simbólica e íntima com o uso do Avental e, por esse motivo, não convém dissociá-los. Nos Ritos Maçônicos praticados na Europa, principalmente na França e na Alemanha, encerra uma contumácia, presentear o candidato recém-Iniciado com dois pares de Luvas brancas: um para ele próprio, outro para a sua esposa ou à sua prometida segundo o costume de nossos Irmãos alemães. Já, na França, o Neófito deve oferecer o segundo par de Luvas à mulher a quem mais quer. Em nosso país, esse par de Luvas deverá ser oferecido à mulher que mais direito tiver à estima e afeto do referido Neófito. O interessante é que a citada prática possui o seu aspecto simbólico, como tudo na Instituição Maçônica. A entrega das Luvas ao Iniciado significa que os atos doravante praticados pelo mesmo, devem ter a pureza e a inexistência de qualquer tipo de mácula, tal como, as Luvas que lhe foram entregues. Historicamente esse costume vem desde a época da “Maçonaria de Ofício”, quando nas Lojas escocesas dos séculos XVI e XVII, o recém-Iniciado deveria presentear com Luvas os demais Obreiros de sua Loja, incluindo às suas mulheres. A partir daí, os Maçons “Aceitos” também começaram a adotar esse costume. Mas, no entanto, a partir de 1660, na Inglaterra, a sociedade dos Francos-Maçons entregava aos recipiendários Luvas para eles e suas esposas. Nessa época, já não eram os recém-Iniciados que ofereciam Luvas aos demais Irmãos. O costume, introduzido em território inglês, propagou-se rapidamente pelo continente europeu e alcançando toda a comunidade Maçônica. Entretanto, atualmente, está praticamente esquecido na Inglaterra, Estados Unidos da América do Norte e nos países que se filiaram à sistemática inglesa. Seria de muito desejar que a tradição fosse mantida universalmente, pelo que representa simbólica e ritualísticamente. O simbolismo das Luvas é uma variação do simbolismo do Avental. E, ambos, têm significado idêntico, já que se referem à pureza da vida. Pode-se até dizer que o Avental se refere ao “coração limpo”, e as Luvas “às mãos limpas”. Ambos os aspectos significando purificação, aquela simbolizada pela ablução que precedia as antigas iniciações nos Sagrados Mistérios. Apesar dos Maçons ingleses e norte-americanos aceitarem somente o Avental como Símbolo maçônico da pureza, excluindo, como tal, as Luvas, estas são muito importantes na ciência simbólica, pois em todos os escritores da antiguidade existem muitas alusões às mãos consideradas puras e límpidas que as calçam. Em si, essas mãos limpas, são representações do simbolismo das ações consideradas puras; pois, as sujas, não deixam de significar os atos tidos como injustos. Assim sendo, tanto os autores profanos como os mais entendidos nos assuntos condizentes à Maçonaria, aludem com bastante frequência a essa simbologia. Se pensarmos esotericamente, o ato de lavar as mãos é um sinal externo da própria purificação interior! Nos Antigos Mistérios, a atitude de lavar as mãos precedia ao Cerimonial Iniciático, servindo para a indicação simbólica que era necessária estar o candidato à Iniciação, livre de todo tipo de crime, antes de ser admitido nos Ritos considerados sagrados.
Diz à história que no Templo da Ilha de Creta era lida a seguinte frase “Limpa-te os pés, lava-te as mãos e, depois entra”. Era, pois, o ato de lavar as mãos, tido como símbolo de pureza, uma ritualística característica dos mais antigos. Quando ninguém ousava orar aos deuses, sem antes ter as mãos lavadas. Igualmente, também ninguém entrava no Templo, sem antes lavar as mãos. E, essa prática prevaleceu entre os judeus. Avançando no tempo, já na Idade Média, os bispos e sacerdotes colocavam luvas para a celebração dos atos considerados litúrgicos. Nessa época as luvas eram confeccionadas em tecido de linho na cor branca, significando castidade e pureza, porque conservavam as mãos limpas e livres de qualquer tipo de sujidade. Portanto, o uso das luvas na Maçonaria é assim, uma ideia simbólica tomada da antiga linguagem universal do simbolismo. Expressando a todo o momento a grande necessidade de levarmos uma vida ilibada. Assim sendo, procedem, pois, as Luvas e o Avental da mesma fonte simbólica. Deixando-nos o questionamento se possuem a mesma origem histórica. A adoção do Avental na Maçonaria se liga ao fato de que os Alvanéis (Maçons) e Franco-Alvanéis (Franco-Maçons) da Idade Média tinham a necessidade de seu uso. Essa é uma das provas de maior evidência de que a nossa ciência especulativa é derivada da arte considerada operativa. Os construtores, reunidos em ligas ou associações, que viajavam através da Europa edificando palácios e catedrais, nos legaram o nome, a linguagem técnica e a peça do vestuário com que se protegiam das manchas produzidas pelos materiais empregues em seu trabalho. Deixaram-nos também as Luvas? Em relatos mais antigos, existem informações de que todos os Obreiros usavam Luvas. É até mencionado com determinada frequência, as Luvas com que eram presenteados os Alvanéis e os talhadores de pedra. Existem referências de que, no ano de 1331, o castelão de Villaines, em Duemois (França), adquiriu uma grande quantidade de pares de Luvas para os seus Obreiros, a fim de protegerem suas mãos contra a pedra que cortavam e os ciscos liberados pela mesma. De idêntica maneira em 1383, quando teve início a construção do Convento da Cartuxa de Dijon (França), foram adquiridas dezenas de pares de Luvas para uso dos cortadores de pedras. Ainda em 1486, foram entregues aos Alvanéis e talhadores de pedra em Amiens (França) pares de Luvas para sua devida proteção. Achamos por bem, que bastam esses exemplos para a certificação de que os construtores da Idade Média usavam Luvas para proteção das mãos contra os efeitos produzidos pelo seu árduo trabalho. Não nos resta, pois, nenhum tipo de dúvida de que nós, Maçons Especulativos, recebemos de nossos Irmãos Operativos ou de Ofício, as Luvas e o Avental como peças da indumentária maçônica, essenciais ao nosso trabalho, só que a elas emprestamos uma finalidade mais nobre e gloriosa. Significam sim, de que os atos atribuídos a um Maçom devem ser puros e imaculados como as Luvas que recebeu em seu procedimento iniciático. Chega a representar a lembrança do seu compromisso. Mostrando que suas mãos devem estar limpas, e que não participaram do crime praticado contra Hiram Abiff. São empregues nos trabalhos desenvolvidos pelas Lojas ou em procissões. Nas Oficinas bem organizadas, chegando a independer do Rito praticado, os Obreiros se paramentam, não só com os Aventais do Grau, mas também com suas Luvas brancas. Finalizando, lembremos Jules Boucher, em sua “A Simbólica Maçônica”: “De uma assembleia de Maçons, onde todos usam Luvas brancas, desprende-se uma ambiência muito particular, que, aliás, pode ser sentida muito nitidamente pela pessoa menos atenta. Uma impressão de apaziguamento, de serenidade, de quietude, constitui a sua consequência natural. A modificação proporcionada por esse ‘signo exterior’ é mais profunda do que poderíamos ser tentados a acreditar. Aliás, o mesmo acontece com muitos Símbolos que se tornam eficientes quando, do plano ‘mítico’, passam para o plano ‘ritualístico’.”
Fonte: JB News