Muito se critica e pouco se conhece a respeito do Rito Moderno ou Francês. Uma das mais infantis acusações (?) ou afirmativas gratuitas que se faz sobre o Rito é ser ele ATEU. É lamentável que maçons, que deveriam conhecer um pouco de filosofia e teoria do conhecimento, façam confusão entre ateísmo e agnosticismo. O Rito Moderno, por saber que a atitude filosófica da Maçonaria é a pesquisa constante da verdade, e por outro lado, ao ver que a verdade, para que seja considerada em todo o seu sentido, deve ser absoluta e infinita, abraça a corrente de pensamento que reconhece a impossibilidade do conhecimento do Absoluto pelo homem em sua finitude e relatividade, ou seja o AGNOSTICISMO. Afirmando assim uma posição de humildade perante o Absoluto, o que deveria ser característica de todo Maçom.
Acrescente-se mais que o Gnosticismo, como teoria da possibilidade de conhecimento (não confundir com os chamados “Gnósticos” do início da Era Cristã), afirma que é possível conhecer o absoluto. Ora, o Ateísmo, ao afirmar categoricamente a inexistência de Deus, pertence à corrente gnóstica, posto que, nessa assertiva, mostra ser possível conhecer o Absoluto, donde podemos concluir que o ateu jamais será agnóstico e o agnóstico não pode ser ateu, pois suas teorias da possibilidade do conhecimento se chocam frontalmente.
Por outro lado, há religiões, como o Budismo, que, em sua origem, tomam uma posição agnóstica, não se preocupando em explicar o Absoluto, reconhecendo a impossibilidade de definí-lo. Desta forma, o Rito Moderno acolhe em seu seio, sem nenhum constrangimento, irmãos das mais diversas profissões religiosas e filosóficas, posto que, mesmo sendo ele agnóstico, não impõe aos seus membros o agnosticismo, mas exige deles uma posição relativa quanto à possibilidade de que outros Irmãos, que abraçam outra filosofia, estejam certos, ora quem é dono da verdade não tem necessidade de pesquisá-la ou procurá-la.
Outra afirmativa que se faz sobre o Rito Moderno é sua anti-religiosidade, o que não passa de outra confusão, que os dicionários, se consultados, ajudariam a esclarecer. O prefixo “anti” quer dizer “contra”. O que melhor caberia para o Rito é o prefixo “a”, que significa “inexistência”, “privação”; e é empregado no sentido de equidistância entre o “a favor” e o “contra”. A maçonaria é equidistante das religiões, não é uma seita religiosa, e os Irmãos que assim a tornam são, evidentemente, ou aqueles que procuram desvirtuá-la, ou aqueles que insatisfeitos com suas religiões procuram na Maçonaria uma nova religião ou a compensação para as suas frustrações místicas.
E, é baseado na equidistância perante as religiões que o Rito Moderno não adota a existência da Bíblia no Triângulo de Compromissos, Altar de Juramentos para outros Ritos. Os defensores da colocação da Bíblia alegam que deve haver um “livro da lei revelada”. Ora, a Bíblia só passou a ser adotada em algumas Lojas a partir de 1740, antes disso Anderson e os demais Maçons aceitavam a obrigação do “Livro da Lei”, Lei Maçônica, Lei Moral. Acrescente-se, ainda, que existem religiões, tais como a Umbanda, o Candomblé, a Pajelança, e outras, com diversos adeptos entre nós, que possuem um livro da lei revelada, cuja tradição é oral. Perguntamos, que livro religioso se colocaria na presença de tais Irmãos?
Vemos constantemente Irmãos Judeus e Muçulmanos, quando Iniciados e em suas exaltações, compelidos a jurarem sobre a Bíblia Cristã, em tradução Católica ou Protestante, numa autêntica violação de suas consciências e dos princípios maçônicos, ou numa prova de que tais juramentos são falsos. Nosso “Livro da Lei” são os princípios da Sublime Ordem, quando muito as Constituições das Potências às quais pertença a Loja, onde constam tais princípios, ou, ainda, as Constituições de Anderson, em sua redação original, que deu origem à institucionalização da moderna Maçonaria. Aproveitamos para transcrever o artigo primeiro da Constituição de Anderson, que é bastante claro a respeito do assunto: “O Maçom está obrigado, por sua vocação, a obedecer a Lei Moral, e se compreender seus deveres, nunca se converterá em um estúpido ateu nem em um irreligioso libertino. Apesar de nos tempos antigos os Maçons estarem obrigados a praticar a religião que se observava nos países em que habitavam, hoje crê-se mais conveniente não impor-lhes outra religião senão aquela que todos os homens aceitam, e dar-lhes completa liberdade com referência às suas opiniões particulares. Esta religião consiste em ser homens bons e leais, quer dizer, homens honrados e probos, seja qual for a diferença de denominações ou de convicções. Deste modo, a Maçonaria se converterá em um centro de União e é o meio de estabelecer relações amistosas entre pessoas que, fora dela, teriam permanecido separadas”.
Após a leitura deste texto, muito pouco se poderá acrescentar a respeito, além de que há religiões que não permitem ao homem se ajoelhar perante seu semelhante, como exigem alguns Ritos, o que não é permitido no Rito Moderno. Mais uma vez o Rito prova, com sua atitude, ser equidistante e respeitar a religião de todos os Irmãos. Bom seria que os Irmãos, que se intitulam religiosos, estudassem um pouco a história e o conteúdo de outras religiões além das nossas, saindo de uma posição sectária, proibida pela Ordem.
Outra “terrível” acusação que se faz ao Rito é não invocar e tampouco adorar o “GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO”, tendo inclusive evitado o uso de seu nome nos Rituais. Ora, meus Irmãos, por mais boa vontade de que possamos estar imbuídos, jamais deixaremos de invocar as entidades religiosas a que estamos ligados dentro de termos e Rituais próprios de nossa religião, e, estaremos desta forma sempre ferindo e violando as crenças e as formas de adoração de outros Irmãos. Deixemos as adorações e as invocações para fazê-las em nossas Igrejas, nossas Sinagogas, nossos Templos religiosos, nossos Centros, nossos Terreiros, nossas Casas e evitemos fazê-las em Loja, onde temos a obrigação de não forçar qualquer Irmão a repetir fórmulas com as quais sua consciência não possa concordar.
Quanto ao não uso do nome do Grande Arquiteto do Universo nos Rituais: este uso só começou a ocorrer a partir da Convenção de 1877, por conclusão do relator da proposta de exclusão do seu uso nos Rituais do Grande Oriente de França, e, é bom lembrar que este Irmão relator era um religioso, o pastor protestante Frederico Desmons. Este foi o grande motivo para que a Grande Loja Unida da Inglaterra rompesse relações com o Grande Oriente de França
No entanto, o Grande Oriente da Bélgica, desde 1872, vedara a invocação e a inclusão do Grande Arquiteto do Universo nos seus Rituais, e nem por isso a Potência inglesa rompera relações com os belgas. O principal fundamento para a exclusão do nome do Grande Arquiteto do Universo dos Rituais é terem os Irmãos, como se pode observar, utilizado dia a dia o símbolo do Princípio Criador da Energia inteligente, do Ente Supremo, do mesmo modo que se vulgarizou o termo Deus, particularizando o seu emprego, invocando-o e adorando-o, conforme sua religião e não como símbolo de todas as concepções que se tenha do que é a Origem do Universo.
Antes de encerrar essas breves considerações gerais sobre o Rito Moderno ou Francês, não poderíamos esquecer o problema dos “Landmarks”. O que são “Landmarks”? O próprio nome diz: são marcas de terra, limites, lindeiros, e como tal devemos considerá-los, jamais como dogmas.
Lembremo-nos: NA MAÇONARIA NÃO EXISTEM DOGMAS, EXISTEM PRINCÍPIOS. No Brasil, existe uma verdadeira psicose pelos “Landmarks” de Mackey, e, no entanto, quando a Maçonaria veio para nossa Pátria, eles sequer existiam, tendo aparecido apenas em 1858.
Meus Irmãos, fica a pergunta: quem deu poderes, que entidade inspirou ao nosso Irmão Mackey para firmar dogmas dentro da Sublime Ordem? Particularmente um deles: o 25º, que não permite qualquer alteração, ferindo o princípio da investigação constante da verdade, da evolução, da pesquisa, de se afirmar progressista: nada pode mudar a partir dele, é o dogma da imutabilidade, da não evolução. É evidente que o Rito Moderno, dentro desses termos, não poderia aceitar os “Landmarks” de nosso querido Irmão, que pretendeu impedir um dos fundamentos da Maçonaria: A LIBERDADE.
Meus Irmãos, diversos são os “Landmarks” mais conhecidos, tais como os de Findel, de Lecerff, de Pound, de Mackey, de Grant, que chegam a 54, e muitos outros. Qual deles é o profeta da Maçonaria que recebeu inspiração divina pra que se afirme ser sua catalogação a correta? Que Congresso Maçônico mundial concluiu serem estes ou aqueles os “Landmarks” aceitos universalmente? Deverão os “Landmarks”, mesmo que universais, estacionarem no tempo e no espaço? Apenas como lembrança, devemos citar que muitos dos nossos Irmãos de outros Ritos e de outras Potências concordam plenamente conosco na tese que abraçamos sobre os “Landmarks”.
Conclamamos aos Irmãos de todos os Ritos e de todas as Potências: devemos nos preocupar com aquilo que nos une, e, relegar ao segundo plano o que nos separa. Este é o fito primordial do Rito Moderno quando dá origem à instituição de um “Grande Oriente”: admitir a diversidade dos Ritos, unindo, numa mesma Potência, Irmãos das mais diversas posições filosóficas, num verdadeiro Universalismo, pois este é o princípio fundamentalda Sublime Ordem.
Ir.·. Antonio Onias Neto – Mestre Maçom (Instalado)
Soberano Grande Inspetor Geral do Supremo Conselho do Rito Moderno.
Publicado originalmente em https://bibliot3ca.wordpress.com/consideracoes-sobre-o-rito-moderno-ou-frances/