Saudações.
É de Victor Hugo, o notável romancista francês, esta lapidar frase:
“Há certas ocasiões na vida de um homem em que, qualquer que seja a posição do seu corpo, a sua alma estará de joelhos”.
É esta a posição de minha alma neste instante, nesta sessão magna
comemorativa de mais um ano de profícuas atividades da União Cosmopolita.
Saudação afetiva aos seus valorosos Irmãos que, ao longo de sua trajetória, dos seus 119 anos, têm legado a todos nós admiráveis lições, destinadas à construção do Templo da Solidariedade, da Fraternidade Humana. Ensinando-nos de que na vida, desafio diário, luta constante, a paz de espírito é uma tarefa, a realização humana é uma tarefa, a fraternidade é uma tarefa e missão.
Nossa reverência ainda maior à União Cosmopolita, Loja mãe da “Acácia Viçosense”.
Agradecido sou à vossa delicadeza e generosidade, meus caros Irmãos, trazendo-me no vosso Augusto Templo para, como um de vós, apenas isso, dirigir-ovos a palavra.
A maçonaria, ontem, hoje e amanhã, é o tema que proponho abordar para o que rogo a vênia e a proverbial atenção de todos.
A maçonaria ontem.
Instituição essencialmente filantrópica, filosófica, progressista e evolucionista, a Maçonaria objetiva o aperfeiçoamento material, moral e intelectual da Humanidade, por meio da investigação da Verdade, do culto da moral e da prática da solidariedade. É a lição que todos nós aprendemos, incorporamos à nossa vida, como mandamento imprescindível e imprescritível.
Considerando o trabalho manual ou intelectual, como dever de todos os maçons, que só por ele se dignifica, a Maçonaria mantém a divisa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade, sustentando como princípio fundamental a mais completa liberdade de consciência, pela prática da tolerância, que se traduz pelo respeito à razão e convicções de cada um.
Atenta à sua doutrina, aos seus princípios e ideais, a Maçonaria, através dos tempos, tem abrigado e fornecido à Humanidade os homens de que ela necessitava para promoveras mudanças exigidas pela sociedade e destinadas à promoção do homem, ao seu bem estar, respeitando-o como criatura humana.
Anatole France, Augusto Conte, Beethoven, Benjamin Franklin, Balzac, Emile Zolá, Kant, Bacon, Rousseau, Leonardo da Vinci, Mozart, Paschal, Montesquieu, Thomas Edson, Voltaire, Victor Hugo, Churchill, George Washington, entre outros, e, entre nós, Benjamin Constant, Carlos Gomes, Floriano Peixoto, Gonçalves Ledo, José Bonifácio, José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, Visconde do Rio Branco, Lafaiete, Duque de Caxias, Campos Sales, Deodoro da Fonseca, Dom Pedro I, Rodrigues Alves, Rui Barbosa, Teófilo Otoni e muitos outros, são maçons ilustres que influenciaram e criaram a arte em suas mais variadas manifestações, legando a todos nós admiráveis lições do quanto é capaz a inteligência humana, quando colocada a serviço dos anseios e aspirações maiores da Humanidade.
Servir-lhe-á de inspiração à Maçonaria, o seu passado glorioso,para vivenciar o presente e construir o futuro.
Sabe o intérprete, comprometido com a história, que a caminhada da Humanidade se fez com a Maçonaria e de tal forma que bem poderíamos dizer que a Maçonaria se confunde com a própria história da Humanidade.
Rejubilemos, fortaleçamos as nossas crenças e convicções com os luminares da Humanidade, com Voltaire, para quem:
A Maçonaria é a entidade mais sublime que conheci. É uma instituição fraternal em que se ingressa para dar e que procura os meios de fazer o bem, de exercitar a beneficência.
Com Joaquim Nabuco, para quem:
Afirmo e juro que tenho ascendido aos graus mais íntimos daquela Ordem (A Maçonaria) e, ali nunca vi uma idéia que fossew incompatível com a Religião. Nos meus discursos (e forma muito dizemos nós) proferidos na Loja do Grande Oriente, sempre tive por escopo demonstrar que a Maçonaria não era contrária ou hostil à religião cristã.
Com Abrahão Lincoln,para quem:
A mais sublime de todas as instituições é a Maçonaria, porque prega e luta pela fraternidade, que cultiva com devotamento,porque pratica a Tolerância, porque deseja a Humanidade integrada em sua só família, cujos seres estejam unidos pelo amor, dominada pelo desejo de construir o bem do próximo. É uma honra para mim ser Maçom.
Se ontem, luminares da Humanidade maçons foram, e orgulhosos de assim serem, sejamos nós, hoje, pelo menos orgulhosos.
A Maçonaria, hoje.
Já se findou o tempo em que o Maçom podia se comprazer em ser o homem do passado. Hoje, ele terá de ser o homem do presente, a caminho do futuro. Jamais parou no tempo o relógio da História. O Maçom de hoje tem que vivenciar as grandes correntes do pensamento e da ação que o rodeiam.
ALEXANDRE CHEVALIES, um eminente Maçom, deixou-nos essa lição:
“O Maçom vive com o seu século e constrói para o seu século”.
Hoje, 250 anos depois de ANDERSON, o fim moral da Maçonaria, tão só, já não mais basta. A civilização atual exige muito mais- que a Maçonaria forme o homem sobre o tríplice aspecto – moral, cultural e cívico.
A maçonaria, sim, deve ser antiga, porém, nova, daí se seguindo que ele deve sempre e sempre evoluir, sem, contudo, abandonar as suas tradições milenárias.
O homem moderno luta, trabalha, inventa, corre, se esfalfa, projeta edifícios, manipula computadores, vai ao espaço e, apesar de tudo isso, ele sabe que a civilização, encarada no sentido da perfeição do estado social, é mais um pesadelo do que benefício, mais fundo de poço do que montanha gratificante. È saudosa fica dos tempos primitivos.
O mundo atual precisa da Maçonaria, da Maçonaria renovada. Só ela é capaz, segundo Paul Naudon, de dar resposta ao medo, à angústia e ao absurdo.
Nossos jovens não encontram seus caminhos… Transmudaram-se o conceito de moral, família, liberdade, igualdade e fraternidade. Vive-se mais a era do individualismo e do materialismo,prevalecendo como trilogia de vida – o dinheiro, o sexo, a droga.
Ainda é tempo de mudar. FLAUBER, o genial poeta francês, afirmou que:
“Se olhássemos sempre para o alto, acabaríamos criando asas”. E nós temos asas invisíveis e poderosas – a fé, a esperança e a caridade. Por que não acioná-las?
Quem olha demais para a terra, sem fixar as estrelas no céu, acaba esquecendo as preciosas asas que tem. Dormita dentro de nós a insopitável sede de liberdade, nosso inato anseio de subir, ganhar alturas, voar. Mas ter asas e não voar é como possuir uma fortuna e jogá-la fora.
Foi pensando em tudo isso, talvez, que Saint Exupéry escreveu:
“Vê mais longe, quem, voa mais alto”.
A Humanidade, hoje, é um barco imenso, navio desorientado, de rota perdida. A brisa da esperança sopra fraca. Os tufões da incerteza e do não-vale-a-pena, rugem ameaçadores, preocupantes e cruéis.
Precisamos de um projeto de vida para navegar com firmeza e decisão, seguindo em frente à luz de um objetivo que aglutine as nossas forças dispersas. E para não encalharmos nas areias da descrença e do ceticismo, cabe-nos, a nós Maçons, acionarmos os remos da fé, da perseverança, do senso e da coragem.
Reaprendamos a lição: viver é plantar, é construir; viver é inflar as velas do dia-a-dia com o vento da motivação. Navio motivado segue em frente, apesar as turbulências ou tempestades.
Há um provérbio indiano que diz:
“O que se faz num dia é a semente de felicidade para o dia seguinte”.
E nós dizemos: nada como um dia após o outro.
Hoje, plantamos, amanhã colhemos; luz ou trevas, triunfos ou derrotas, amigos ou desafetos… de acordo com o plantio dos nossos atos,das nossas ações. Hoje, o nosso desafio éa construção de um grande projeto de vida. Façamo-lo, ainda há tempo.
A Maçonaria, amanhã.
A ninguém passa por desapercebido que vivemos, hoje, um drama político de proporções catastróficas. A história política do nosso País nunca registrou tantos abusos e tamanha irresponsabilidade na condução da coisa pública. Chegamos ao limite do insuportável e,por um dever cívico e moral, a nossa reação contra essa impostura inominável deve corresponder a uma punição,porém, mais severa do que aquela imposta por Jesus Cristo aos vendilhões do Templo.
É humanamente impossível ao povo brasileiro tolerar por mais tempo essa voragem abominável dos fraudadores dos cofres públicos.
O amanhã, como será? O que vamos legar aos que nos suceder?
Indispensável e urgente se faz uma vigorosa tomada de posição, para que o nosso País possa vencer essa alarmante crise de que padece. Crise como é, conjuntural, econômica, política, social e cultural, mormente, crise ética e moral e até mesmo espiritual pelo desprezo aos valores humanos, individuais, familiares e religiosos.
Conforta-nos, porém, a certeza de que a Maçonaria, através da História, já demonstrou sua dedicação em servir à Ordem, à Pátria e a Humanidade. E não deserdará de sua vocação e compromisso.
Sêneca, há séculos atrás, nos advertia:
“Se o homem não sabe para que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável”.
A Maçonaria, hoje e amanhã, saberá unir e agrupar os seus Irmãos, direcionando-os para o porto da paz, da harmonia, da busca incessante e de sua prevalência dos valores éticos e morais,para tudo recompor, reconquistas a fé nos destinos do Brasil, reconduzindo a Pátria à sua destinação gloriosa para que neste milênio seja como sempre foi: digna, forte e respeitada no concerto das Nações.
Ouçamos LAMARTINE, o grande pensador francês:
“Maçons, sois os grandes ecléticos do mundo moderno. Tirai de todos os tempos e de todos os países, de todas as eras, de todos os sistemas e de todas a filosofias, os eternos princípios fundamentais da moral universal e, deste modo obtenhais o grande dogma infalível da fraternidade”.
A fraternidade, o congraçamento entre os homens, a comunhão de todos os homens, eis o grande desafio da Maçonaria de hoje, para o amanhã.
Recorro a LUCAS, para quem Jesus contou esta história:
“Certo dia, um comerciante judeu viajava de Jerusalém a Jericó. A estrada que ele percorria era perigosa, a região tinha muitas colinas. E o mais grave: havia muitos assaltantes.
Não surpreende o fato de que o viajante foi vítima dos assaltantes; além de despojá-lo de seus bens, o agrediram, o feriram e, quase morto, o abandonaram na beira da estrada.
Para aquele homem não morrer, só havia uma única esperança: que alguém passasse por ali e o socorresse.
Decorrido algum tempo o viajante ouviu passos. Era um sacerdote. Todo animado, ele pensou: certamente ele me ajudará, porque dedica sua vida a Deus e deve ter compaixão de mim. Todavia, para seu infortúnio: o sacerdote fingiu que não o viu e, atravessando para o outro lado da estrada, foi embora.
Pouco depois, passou por ali um levita, ou seja, um ajudante de sacerdote, que viu e até pensou em ajudar o viajante, mas, como estava atrasado para ir à igreja, disse a si mesmo: não posso parar, e foi embora.
O judeu já não agüentava mais de tanta dor e, já agora, tinha sede. As suas esperanças estavam se desvanecendo, e ele sentiu a proximidade da morte.
Eis, porém, que ele ouve os passos de um cavalo. Montado nele estava um samaritano, mas como os samaritanos não combinavam com os judeus, o viajante se entristeceu. É que não podia supor que justamente um samaritano seria capaz de socorrê-lo. Para sorte dele, no entanto, aquele samaritano tinha um coração generoso.
Ao ver o viajante, o samaritano prontamente o ajudou. Desceu do cavalo, deu-lhe água; fez-lhe curativos, usando como faixas as suas próprias vestes. Com muito cuidado colocou o judeu em seu cavalo e o levou a uma estalagem. Durante toda a noite, o samaritano tomou conta do judeu.
No dia seguinte, antes de prosseguir viagem, o samaritano disse ao estalajadeiro: este homem não tem dinheiro, mas eu pagarei sua conta até que ele fique bom. Cuide dele e não deixe lhe faltar nada. Tome este dinheiro. Eu voltarei e pagarei o que tiver gasto a mais.
Meus caros Irmãos, cunhadas e visitantes:
A parábola mostra-nos as posições em que o homem se coloca na vida. O assaltante, para quem, o que é seu, é meu: o sacerdote e o levita,para quem, o que é meu, é meu; finalmente,para o samaritano, o que é meu, é seu.
O primeiro dos personagens personifica a violência, que tanta preocupação nos causa hoje. O sacerdote e o levita simbolizam o egoísmo, que nada constrói. Aquele que o cultiva é incapaz de olhar dentro de si mesmo e ver o que existe ao seu redor e de volver os olhos para o alto.
O samaritano é a personificação da fraternidade. E com ela o maçom está comprometido.
Há um símbolo/alegoria muito interessante e adotado em todos os ritos da Maçonaria, o Pelicano ferindo-lhe o peito, para alimentar seus filhotes com seu próprio sangue. Que símbolo maior poderia se encontrar para traduzir o amor que deve reinar entre os homens?
Só o sentimento da Fraternidade pode dar sentido à Liberdade e à Igualdade. A Liberdade e a Igualdade a lei pode prescrevê-las, mas a Fraternidade não, só o amor. E é só pelo amor que haveremos de construir a Maçonaria de amanhã,congregando homens de boa vontade no grande ideal da fraternidade.]
Nada mais enriquece a nossa existência do que a prática do amor. Quando traduzimos em gestos e vida o amor, amenizamos dores alheias, socorremos e confortamos aflitos, toleramos e relevamos ofensas, promovemos reconciliações, conseguimos superar desentendimentos, distribuímos esperanças e alegrias.
Diz o poeta que o amor é a melhor música na partitura da vida. Sem o amor seremos eternos desafinados no coral da humanidade.
Com esta mensagem, encerro este, trabalho, esperançoso de ter contribuído, embora singelamente, para a celebração de mais um ano auspicioso na existência da nossa querida União Cosmopolita.
Obrigado, obrigado a todos, pela atenção a mim dispensada.
Palestra proferida pelo Irmão Evaldo de Oliveira Fernandes, da Loja Maçônica Acácia Viçosense, na Loja Maçônica União Cosmopolita de Ponte Nova, na sessão magna comemorativa dos seus 119 anos de existência, na data de 13 de abril de 2015.
Na minha modesta opinião, uma verdadeira obra de arte, salpicada do mais puro ouro da cultura (ARV)
Fonte: JB News