A Loja de Mesa ou Jantar Ritualístico do ritual britânico tem atributos diferentes do Jantar Ritualístico do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA). O do REAA teve origem em França. Seu ritual foi desenvolvido em Lojas militares, durante o 1º Império de Napoleão (1804-1814). Resultando, por isso, num ritual rico em símbolos militares. Bem ao gosto francês, há, nos Jantares Ritualísticos do REAA, ornatos inseridos nos sinais, como por exemplo, fazer sinais com facas (espadas ou alfanjes) e uso de guardanapos (bandeiras) e o tiro (fogo). E, impropriamente, fazer sinais de ordem sentado.
A Loja de Mesa, no ritual britânico (Craft), teve origem no século XVI, nos ágapes (boards) realizados após uma sessão maçônica. Herdou influências da realeza britânica. Teve sua ritualística desenvolvida após 1717, com marcantes influências hebraicas e celtas. As primeiras regras escritas do Jantar Ritualístico apareceram em 1721, em Londres.
Até hoje, em todas as sessões na Grã-Bretanha, obrigatoriamente, realizam-se ágapes (boards). Mas, Lojas de Mesa (Festive Boards), somente em sessões comemorativas. O Royal Festive Board é realizado no dia 24 de junho (fundação da Grande Loja de Londres e Westminster, em 1717, e próximo ao solstício de verão no hemisfério norte) ou 27 de dezembro (fundação da Grande Loja Unida da Inglaterra, em 1813, e próximo ao solstício de inverno).
No ritual britânico, a Loja de Mesa é feita em loja fechada, isto é, não se abre a Loja. Isso ocorre desde 1854, quando a rainha Victoria foi convidada e participou de um Festive Board da Grande Loja Unida da Inglaterra. [Rainha Victoria, Alexandrina Victoria, nasceu em 1819 e faleceu em 1901, da casa de Hannover. Foi rainha da Inglaterra por 64 anos.] Desde então, usa-se o termo Royal Festive Board. Eventualmente, profanos podem participar da Loja de Mesa. É tradição, na Grã-Bretanha, a participação da Rainha Elizabeth II, na Loja de Mesa de Londres o que ocorreu neste ano, no dia 24 de junho, quarta-feira, às 17:00 h, em comemoração aos 298 anos de fundação da Grande Loja de Londres e solstício de verão, ocorrido no dia 21 de junho. O ritual de Loja de Mesa britânico não pertence ao Ritual de Emulação, mas sim ao Craft britânico.
O Venerável Mestre senta-se no Leste (chamada mesa do candelabro de sete braços, não é chamado de Oriente); o 1º Vigilante no Oeste (lado Norte) – chamada mesa do candelabro de cinco braços; o 2º Vigilante no Oeste (lado Sul) – chamada mesa do candelabro de três braços. O Oeste não é chamado de Ocidente.
Há muitas influências hebraicas no Royal Festive Board. Come-se carneiros, chamados em hebraico de Korban ( בָ רְ ב significa “sacrifício“) termo que se encontra na Torá e significa um sacrifício de um animal ofertado a Jeová. O cordeiro é uma oferenda ritualística simbólica na Maçonaria. Come-se pão ázimo ou matzá (ָּ מַ צ ה ); um pão assado sem fermento, feito somente de farinha de trigo e água.
O significado simbólico é: da mesma forma que a massa sem levedura não sofre um efeito corruptor, ao preparar a levedura de nosso corpo, também demonstra-se o desejo de pureza, quando se deseja comemorar a liberdade em relação à escravidão. Na Maçonaria, portanto, comer pão ázimo significa a liberdade dos vícios, ou “cavar masmorras ao vício e erguer templos à virtude”.
Bebe-se vinho – yayin (ןיי ) que significa uma simbólica santificação ou virtuosidade – o Kadosh ק מה ד , significa “sagrado” ou “santificado”. Em Maçonaria, Kadosh significa “virtuoso” ou ”virtuosidade”. Há várias justificativas bíblicas para se beber vinho. A primeira, em Juízes 9: 13: “… meu vinho, que alegra a Deus e aos homens…”. Também no Salmo 104: 15: “…o vinho, que alegra o coração do homem…”.
Nas cerimônias judaicas, usa-se o Shofar ( מ שׁ רָ ), um chifre tradicionalmente de carneiro, que era utilizado como instrumento musical nos tempos da construção do Templo de Salomão. Os sons característicos do shofar, que nas cerimônias hebraicas ecoa por 3 vezes (shefarim ou sh’varim) tal qual 3 soluços significam o chamamento à ordem sobre as necessidades da alma. O Shofar é a origem, na Maçonaria, as batidas dos malhetes nos pedestais e, em outros ritos, nas diversas baterias dos graus. Os malhetes e as baterias derivam do Shofar. Na Maçonaria, usa-se malhetes que é o chamamento à ordem e à atenção, batido por 3 vezes.
O candelabro de sete braços na mesa do Venerável Mestre é, na tradição hebraica, a menorá (מְנוֹרָה – מנורת שבעה קנים ) – um dos símbolos do antigo Templo de Jerusalém, símbolo do Judaísmo e parte do brasão oficial do Estado de Israel. A Menorá representa a divindade e, para os maçons, a Sabedoria. Por isso está na mesa do V.M..
O 1º Vigilante senta à mesa do candelabro de cinco braços. A menorá de cinco braços (נברשת חמש זרוע ) representa a criação do mundo em 5 etapas. O candelabro de cinco braços simboliza a força de criação e, para os maçons, a Força. Por isso, está na mesa do 1º Vigilante.
O 2º Vigilante senta à mesa do candelabro de três braços. O candelabro de três braços, que não é um símbolo judaico, mas cristão, representa a criação do mundo. Simboliza a matéria e, para os maçons, a Beleza, a natureza.
No ritual britânico, o V.M. faz apenas um brinde, dividido em quatro etapas. Isso, também, tem origem hebraica. Os quatro brindes representam as quatro expressões de libertação prometidas por Deus, em Exodus, 6: 6-7 (sair da escravidão, libertação, redenção e ser o povo escolhido); igual aos quatro brindes do Sêder de Páscoa (סֵדֶר ), o Jantar da Páscoa Judaica. O Mestre da Loja levantará um só brinde, dividido em quatro etapas. Os quatro brindes homenageiam: 1. os chefes executivos federais (chefe de Estado Brasileiro — não se brinda o chefe de governo —, e chefe do Estado Maçônico, o Grão-Mestre Geral do GOB); 2. os chefes executivos estaduais (chefe do estado — Governador do Estado, Grão-Mestre do GOB-SC e Grão-Mestre de Obediências regulares, se estiverem presentes. Hoje, contamos com a presença do Grão-Mestre Adjunto do GOB-SC); 3. as autoridades maçônicas (Grandes Secretários, Veneráveis Mestres e autoridades presentes de outras Obediências regulares); 4. os maçons.
Dos celtas, a Maçonaria adotou a recomendação de se realizar o jantar ritualístico no solstício de verão (em junho, no hemisfério norte), o dia mais longo do ano — o dia de maior Luz, de maior Sabedoria. Esta é a razão da instalação dos VVMM em junho. Os Grão-Mestres são empossados em junho, simbolicamente, época de maior Luz, maior Sabedoria.
Como o solstício de verão, no hemisfério norte (21 de junho) coincide, aproximadamente, com o dia de São João Batista (24 de junho), as Lojas maçônicas são chamadas Lojas de São João. A Maçonaria não é uma religião, e São João Batista tem o significado simbólico do anúncio de uma Boa Nova, o Precursor. Várias Grandes Lojas foram fundadas em 24 de junho. As Lojas maçônicas, onde se comemoram os solstícios, chamam-se Lojas de São João para apagar o ranço pagão celta.
O solstício de inverno, no hemisfério norte, tem outros significados simbólicos, quando, também, são realizadas Lojas de Mesa. O solstício é dia 22 de dezembro, próximo ao dia 27 de dezembro, dia de São João Evangelista. Mais uma vez, Lojas de São João, mas com outro significado simbólico – o solstício de inverno é a época da Esperança. Todos os anos, em 27 de dezembro, a Grande Loja da Inglaterra faz uma sessão ritualística, comemorando a abertura do ano maçônico.
A comemoração dos solstícios é um costume celta que ocorre até hoje na Grã-Bretanha. As fogueiras de São João têm origem pagã e fazem parte da comemoração do solstício de verão. O culto do fogo — culto da Luz — foi praticado milhares de anos antes dos celtas e de São João Batista. Foi praticado, também, nas festas pagãs solsticiais romanas, nas guildas de York, Inglaterra.
Por fim:
O objetivo da Loja de Mesa é a confraternização; isto é, a reunião em comunhão de estado de espírito e demonstração da fraternidade entre os conviviais. Assim, (cf. regras de 1721): “comamos e bebamos e façamos votos de que nos tornaremos melhores amigos” (eat and drink and do hope that we become best friends).
Referências Bibliográficas:
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Fonte: JB News