Estudando a história, poder-se-ia achar que a vida na Idade Média era muito mais movimentada do que a de nossos dias. De fato parece ser.
A movimentação era, entretanto, num outro campo e por razões diferentes das movimentações de hoje.
A atividade dos corpos talvez fosse menor. Certos homens viajavam muito, mas era apenas uma certa categoria de homens: os mercadores, os estudantes, os nobres.
Mas a maior parte das populações ficava fixa nas cidades. E o geral dos homens viajava muito menos que os de hoje.
Agora, acontece que enquanto a vida física de um homem era menos trepidante, sua vida espiritual, intelectual e moral era muito mais sujeita a flutuações e muito mais cheia de vais-e-vens.
Isso determinava uma diferença de “colorido” na vida medieval.
Podemos olhar em torno de nós e veremos que são poucas as pessoas que mudaram de mentalidade.
A maior parte das pessoas não muda de mentalidade. A mentalidade que têm consiste em:
– não ter mentalidade, pelo menos explícita,
– ser adoradores desse século,
– levar uma vida agradável,
– procurar, sobretudo, viver como se entende,
– não se impressionar com princípios, nem se deixar guiar por nenhuma espécie de doutrina.
Esse tipo de mentalidade é tão arraigado que podemos contar pelos dedos os pecadores que se arrependeram, ou se converteram, e passaram a ser pessoas de virtude. No homem contemporâneo há uma espécie de regra de fixidez.
Há uma certa categoria de gente que sabemos que é “boa” e que vai naquele passo manso até o fim da vida… E há uma outra categoria que a gente sabe que não presta, e que também vai no passo de louco até o fim da vida.
As categorias são mais ou menos definidas e delimitadas.
Na Idade Média não era assim. Vemos, às vezes com espanto, regiões inteiras profundamente católicas que mudam, de repente, e caminham até os extremos da heresia mais declarada.
Vemos também regiões heréticas que se convertem real e profundamente. E homens ímpios que se convertem de um momento para outro.
Mas vemos histórias pavorosas de apostasias de padres que fogem dos conventos e fazem coisas medonhas. Pessoas que eram boas e viviam na vida de família mas que apostataram.
Esta ‘movimentação” se deve a alguns fatos:
Em primeiro lugar, a vitalidade do homem medieval era muito mais exuberante.
Em segundo lugar, o homem medieval tinha mentalidade e idéias. Quando se tem mentalidade e idéias é possível mudar-se de uma para outra.
O homem medieval exibia uma ‘movimentação” intelectual e religiosa que se devia a alguns fatos:
Em primeiro lugar, a vitalidade do homem medieval era muito mais exuberante.
Em segundo lugar, o homem medieval tinha mentalidade e ideias. Quando se tem mentalidade e ideias é possível mudar-se de uma para outra.
Hoje, pelo contrário, há exatamente uma carência de idéias.
Sobretudo o que há é que o homem contemporâneo é de uma dureza de coração, especialmente no que diz respeito ao bem. Ele absolutamente não muda. As manifestações de virtude mais palpáveis não o comovem.
Podemos ter o exemplo disto em torno de nós.
Por vezes, pessoas que não fazem mal a ninguém e que dão a todos o exemplo da virtude, bons filhos, bons irmãos, procedem bem em todas as coisas mas não obtêm a simpatia de ninguém.
Qual a razão disto? Endurecimento… O espetáculo da virtude não comove, não impressiona; a virtude não é simpática, não atrai nenhuma espécie de simpatia.
Isto se prende também ao mito do “cidadão maior”, investido em todos os seus direitos civis. A primeira coisa que este cidadão pseudo-livre precisa ter é que ninguém mexa em sua cabeça. Ele é inteiramente independente. Ele tem uma idéia e não muda; toma uma atitude e não liga para ninguém.
Agora, por que ele é independente senão para ser burro sozinho, para ser um celerado sozinho? Ele tem sua independência, ele a mantém.
Resultado: a voz da graça lhe fala e encontra fechadas as portas de seu coração! Ele absolutamente não se comove.
As Cruzadas foram um exemplo de ressonância da voz da graça e da voz do passado, na Idade Média.
Pelo contrário, na Idade Média encontramos a possibilidade de ressonância da voz da Igreja, como também da voz do passado, de um modo prodigioso.
É curioso ver como os bons exemplos, como certas situações, como certas crises sociais, impressionavam. E não era só o bom exemplo do rei. Era o bom exemplo dado por qualquer um.
– As Cruzadas, em grande parte, foram determinadas pelo contágio de alguns bons exemplos.
– São Bernardo, quando entrou para o convento de Cister, levou consigo, de uma vez, cerca de vinte ou trinta cavaleiros.
Por toda parte notamos que um, tomando uma posição, uma porção de outros se impressionam e seguem, porque ir atrás de um outro não era uma vergonha, sobre tudo quando exibia objetivos, ideias, doutrinas e projetos santos.
Foi preciso chegarmos ao século XX para se decretar que ir atrás de um homem como São Bernardo é uma vergonha.
Fonte: https://cidademedieval.blogspot.com.br/2017/10/extraordinaria-proficua-e-placida.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+ACidadeMedieval+(A+cidade+medieval)