Alegoricamente, conforme Figueiredo (s.d.), “filho da viúva” é chamado todo membro ou irmão dos quadros da maçonaria; denominação dada a todos os maçons, mormente os do 3º grau, dos Mestres, simbolicamente considerados filhos da viúva, como o foi o arquiteto Hiran Abiff, da tribo de Neftali. Ainda de acordo com o mesmo autor, Ìsis,a “grande viúva” de Osíris, buscando os membros esparsos de seu esposo, é igualmente encarada como a mãe de todos os maçons, os quais, a seu exemplo, procuram o corpo de seu mestre Hiran Abiff, que segundo a lenda, foi assassinado pelos três maus companheiros que personificam os vícios capazes de aniquilar a alma, quais sejam a inércia, a sensibilidade e o orgulho.
Também “filhos da viúva” conforme postulações do mesmo Figueiredo (s.d.), segundo as lendas, foram Jerobatão, Hórus, Moisés, etc, de sorte que aí se há de buscar um sentido místico, de caráter universal. Para alguns estudiosos, essa frase tem o significado de “iniciação nos Mistérios Menores”, enquanto que “Filho da Virgem” corresponde a “iniciação nos Mistérios Maiores”.
De acordo com uma pesquisa feita pela Loja Thomas Kemphis nº 2193, publicada na edição 138, ano XI, de Janeiro de 2005, a primeira explicação para o nome “filhos da viúva”, está relacionada com a lenda de Osíris, mito solar egípcio, decalcada em outras lendas mais antigas, como a do deus agrário Dumuzi, dos sumerianos. Foi Plutarco quem transmitiu, no primeiro século da era cristã, a melhor versão da lenda de Osíris, confirmada, posteriormente, pela tradução dos textos hieroglíficos.
Osíris foi um grande sábio e bondoso rei egípcio, cuja preocupação principal era civilizar o povo, tirando-o de sua primitiva barbárie e ensinando-lhe o cultivo da terra, os fundamentos da lei e o culto dos deuses.
A lenda é tipicamente decalcada nos mitos solares, pois, de acordo com ela, Osíris foi assassinado no 17º dia do mês Hator, que marcava o começo do inverno. A lenda, assim, do ponto de visto místico, mostra o Sol (Osíris) morto pelas forças das trevas (Set), deixando viúva a Terra (Ísis), para renascer, posteriormente, completando um novo ciclo, também representado pelas sucessivas mortes e renascimentos dos vegetais, de acordo com a influência solar.
Os Maçons, identificando-se com Hórus, são os filhos da viúva Ísis, a mãe-Terra, privada do poder fecundante do Sol (Osíris), pelas forças das trevas.
A segunda explicação para a origem da expressão está ligada à lenda de Hiram, largamente baseada na lenda de Osíris e em outros mitos da antiguidade. O artífice fénício Hiram construtor do templo de Jerusalém, segundo a lenda (mas, na realidade, um entalhador de metais, responsável pela confecção das colunas e das bacias necessárias ao culto), era filho de uma viúva da tribo de Neftali.
Todos os Mestres Maçons, quando foram exaltados no 3º grau têm conhecimento de que, em caso de necessidade urgente, na estrada ou em qualquer outro lugar, quando em desespero, ao fazerem determinado sinal e, passando por ali outro maçom, seguramente ele será atendido naquele momento de aflição. Os maçons o conhecem como “sinal de socorro” e ao se aproximar daquele que o faz, algum outro irmão, a ele dirá: “a mim filhos da viúva”. Qualquer irmão do mesmo grau ou superior que ouvir este apelo acorrerá em seu auxílio, mesmo com risco da própria vida, em obediência à sagrada regra maçônica de todos por um e um por todos.
Como não poderia deixar de ser, este sinal maçônico somente será usado em última instância e, de forma alguma, poderá ser banalizado ou usado de maneira indevida ou que possa colocar em dúvida a sua coerência e eficácia.
A viúva é a Maçonaria. Isso, graças à lenda de Osíris. Ísis, mãe da terra, é a Grande Viúva de Osíris, símbolo do Sol que a fecunda e da qual somos todos filhos, como uma Loja tem o significado de mundo, os Maçons são por extensão filhos do Universo, por sermos todos originários de suas partículas.
Na maçonaria temos também o Tronco da Viúva, que nada mais é do que o Tronco de Solidariedade ou Tronco de Beneficência, bolsa oblonga que o irmão Hospitaleiro ou quem o substitui, faz circular, sistematicamente em todas as reuniões maçônicas ordinárias ou magnas, para colher dos irmãos presentes seus donativos ou óbolos que são destinados a socorrer as viúvas, os órfãos, enfim, para ajudar os necessitados.
Os maçons ao depositarem a quantia ditada pelos seus corações, o fazem com a mão esquerda, seguindo uma máxima maçônica de que, o que a mão esquerda faz, a mão direita não precisa ficar sabendo. Portanto, esta doação é feita de forma que um irmão que esteja próximo não veja o quanto está sendo depositado no Tronco da Viúva. É um momento que, se bem interpretado simbolicamente, se reveste de um significado esotérico e exotérico da maior profundidade, traduzindo a bondade, a caridade e a misericórdia.
Após a conferência do seu conteúdo e anunciado o valor alcançado o Venerável Mestre o debita ao Tesoureiro que o coloca à disposição da Hospitalaria da Loja que a ele destinará o seu fim. A maçonaria, como não poderia deixar de ser, tem um carinho muito especial pelas viúvas e pelos nossos sobrinhos que ficaram órfãos, sempre que tem oportunidade e, na medida do possível, procura ampará-los tanto material, como espiritualmente.
Entretanto, percebemos em muitos casos, o total desinteresse dos irmãos e de algumas Lojas no apoio a cunhadas nossas, viúvas, cujos maridos e nossos imãos já passaram para o Oriente Eterno. Com raríssimas exceções encontramos com cunhadas e sobrinhos em festas promovidas pelas nossas Lojas, demonstrando totalmente o contrário daquilo que se prega e que deveria ser observado de forma rígida em respeito àqueles que tanto deram pela nossa Ordem Maçônica. Façamos uma reflexão e mudemos os nossos comportamentos, para que possamos dormir sempre com a nossa consciência em paz, com a certeza do dever cumprido em toda a sua plenitude.
Bibliografia pesquisada:
FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de. Dicionário de maçonaria: seus mistérios, ritos, filosofia, história. 4.e.d São Paulo: Pensamento, (s.d.).
O BARÃO DE TSCHOUDY. Filhos da viúva. Loja Thomas Kemphis, nº 2193. ed. 138. Ano XI, Janeiro, 2005.
Fonte: JB News