Loja União e Silêncio – GODF – GOB Sabemos que a Ordem Maçônica é uma escola na qual se ensina e aprende a arte de viver e de pensar. Nela adquirimos os indispensáveis conhecimentos sobre a história, a simbologia, os ritos e rituais, para fortalecimento dos antigos ideais
herdados de nossos antepassados. Sabemos também que cultura e informação formam um conjunto de conhecimentos teóricos e práticos, que se aprende e se transmite aos contemporâneos e aos vindouros.
A cultura maçônica, por sua vez, visa congregar a interpretação de seus símbolos, a prática de suas tradições e suas lendas místicas. E por que um cidadão ingressa na Maçonaria (irmandade)?
Ora, os interesses e necessidades específicas certamente fazem com que os homens se unam em associações econômicas, em irmandades, em sociedades religiosas, etc. Além de seus conteúdos específicos, todas estas associações também se caracterizam, precisamente, por um sentimento de seus membros, de estarem associados. Por sua vez, tais integrantes sentem que a formação de uma sociedade, em si mesma, é um valor; e são impelidos para essa forma de existência; tal forma é a mútua determinação e interação de elementos da associação e é através dela que constituem uma unidade.
E o que move a sociabilidade?
O que move o Sol e as outras estrelas e cria a sociabilidade é o amor (ágape). Pois o amor é o impulso que une as pessoas, especialmente naquela que foi definida como a “célula da sociedade”, isto é a família. Assim, o ato de associar-se (associação) requer práticas artificiais e procedimentos sociais, já socialmente referenciados. Deste modo, o indivíduo (maçom) que pretende efetivar-se com parte de uma sociedade (Loja Maçônica) vai adotar, infundir-se seus “tatos sociais” (sua maneira de agir em sociedade), ou seja, no conjunto de maneiras, atitudes e trejeitos socialmente sancionados (ritualística), prestando-se à efetivação das conexões (relacionamentos interpessoais), das interações e relações sociais (fraternidade), aglutinando-se em torno de indeterminados interesses motivacionais (confraria). Esse é, então, precisamente o fenômeno que se chama sociabilidade, que é exercitado diariamente pelos maçons espalhados pela face da terra, enquanto homens iniciados e enquanto cidadãos prestantes em suas comunidades sociais, particularmente nos momentos de comensalidade. E o que significa comensalidade? Dentro do significado da palavra comensalidade inclui-se a partilha do alimento entre duas ou mais pessoas. O seu significado continua ultrapassando a mera necessidade fisiológica e ainda possui um sentido mais amplo, no que tange às relações entre as pessoas envolvidas.
Ademais, a alimentação é – após a respiração e a ingestão de água – a necessidade mais fundamental do ser humano. Além de uma necessidade biológica, há por trás da alimentação um sistema repleto de simbologias que envolve representações sociais, sexuais, políticas, éticas, religiosas e outras. Por outro lado, os ritos e os hábitos à mesa indicam consensos alimentares, decerto capazes de controlar os impulsos inerentes ao ato de comer. Um indivíduo é ou não bem aceito à mesa, segundo seus gestos básicos de postura e respeito pelo ritual de comer. Por isso, em diversas sociedades, como a Maçonaria, as celebrações de rituais são acompanhadas de banquetes. Vale salientar que, na Idade Média, os banquetes já se constituíam um símbolo para expressar compromissos baseados na paz e na concórdia. Portanto, o comer junto e beber junto, a mesma comida e a mesma bebida, num só momento (costume maçônico dos comes e bebes) remonta aos primórdios da Maçonaria Especulativa. Feitas estas considerações, reportemo-nos ao que ocorreu no dia 24 de junho de 1717, dia dedicado a São João Batista.
Nessa data, na Taberna do Ganso e da Grelha, sob a assessoria de James Anderson, líder da Igreja Presbiteriana, maçons, membros de quatro lojas fundaram a primeira potência maçônica: A Grande Loja de Londres. O senhor Anthony Sayer, ali presente, por ser o mais idoso, foi escolhido Grão-Mestre; o carpinteiro Jacob Lambdall, o primeiro vice-presidente; e o capitão Joseph Eliot, o segundo vice-presidente. Após a eleição, todos os presentes participaram de um banquete comemorativo. Lamentavelmente, não se tem notícia do cardápio servido naquela ocasião, à falta de registro documental. Não obstante, para melhor organizar os banquetes que seriam realizados anualmente, por ocasião da eleição do novo Grão-Mestre, foram incluídas nos Regulamentos Gerais de 1721 as regras para planejamento, organização e execução do banquete nas Lojas de Londres e Westiminster.
Diz a regra XXII do referido regulamento: “ Os irmãos das Lojas de Londres e suas cercanias e os de Westiminster realizarão anualmente um reunião com um banquete em local conveniente, no dia de S. João Batista, ou no dia de S. João Evangelista, se assim resolver em novo regulamento, a Grande Loja, pois nos últimos tempos tem se reunido no dia de S. João Batista. Ou seja, daquela data até nossos dias, o costume de realizar um banquete após as reuniões maçônicas, especialmente as mais solenes, vem sendo mantido, tornando-se por isso uma tradição, em que comparecem muitos comensais, que participam de um acontecimento que é caracterizado por regras, normas de comportamento à mesa, etc. Vale recordar, por oportuno, que os cristãos nos tempos da Igreja primitiva celebravam o ágape, comida em comum, chamado atualmente de Eucaristia. Na época desses ágapes, existia um costume medieval chamado CUM PANIS, que significava “ os que partem o pão “. Entre os antigos construtores de catedrais, o ágape consistia em comer um pedaço de pão com determinado ritual. Costume esse que a Maçonaria moderna incorporou social e ritualisticamente. Senão, vejamos!
É costume, atualmente, após as reuniões de nossas Lojas os obreiros se reunirem para um copo d’água, para um ágape informal; é o chamado segundo tempo. É um momento que acontece para fortalecer os laços de amizade, sedimentar o convívio social e fraternal entre os obreiros. Contudo, não deixa de ter seus inconvenientes, por excesso de bebida e de tempo em sua duração. Além desse ágape informal, nossas Lojas, em sua maioria, realizam ágapes formais e ritualizados; são os chamados banquetes maçônicos, eventos que acontecem durante uma sessão especial, em torno de uma mesa geralmente em forma de ferradura. É um momento cultural de grande relevância, onde se destacam diversas culturas, desde a história da alimentação, passando pelo uso dos quatro elementos da natureza, pela comensalidade, sociabilidade, na exercitação dos cinco sentidos, na aplicação das sete artes liberais, desembocando na confraternização entre os comensais. Nas sessões de Loja de Mesa ou Loja de Banquete, a posição da mesa é definida de acordo com a data de sua realização.
Quando realizado no solstício de inverno, a sua cabeceira deve estar voltada para a posição em que se encontra o signo de Capricórnio, devendo sentar-se no centro da mesa o Venerável Mestre. Quando no solstício de verão, o centro da mesa deverá estar voltado para a posição em que se encontra o signo de câncer. Por ocasião da realização do banquete, é de fundamental importância o uso de som musical, que também é uma tradição. O Grande Oriente do Brasil, atualmente, adota sete Ritos, dos quais seis dispõem de rituais de banquetes. Os cardápios (comidas e bebidas) servidos nos banquetes são escolhidos pelo Mestre de Banquete, que procura montar pratos com comidas regionais, em uso na localidade em que se encontra a Loja promotora. Diante das informações ora transmitidas, podemos destacar algumas conclusões sobre o tema banquete maçônico e sua importância cultural, quais sejam: Por que realizar o Banquete em sessão de Loja de Mesa ? Porque o Decreto nº 257, de 26 de maio de 1999, baixado pelo então Grão-Mestre Geral, Irmão Francisco Murilo Pinto, aprovou e determinou a aplicação do Ritual Especial de Banquete, para utilização em Loja da Federação Maçônica. Porque participar de um banquete é uma iniciativa de gosto social e fraternal.
Porque, durante o banquete, o comensal participa de um momento cultural, em que atua ao mesmo tempo como espectador e ator. Como expectador ele assiste, observa e redescobre os significados da ritualística, do simbolismo, do esoterismo, para que servem os cinco sentidos humanos, a aplicação na prática das 7 artes liberais, da gastronomia, da etiqueta social, da geografia e história da alimentação, que geralmente são ressaltados pelo irmão Orador, ao apresentar sua peça de arquitetura alusiva ao ato.
Como ator, participa como comensal dos atos formais e informais que acontecem no decorrer do banquete; oferece e recebe brindes; estabelece conversação; adota vestuário e posturas adequadas à boa sociabilidade. Quando realizar o banquete ? O banquete ritualístico poderá ser realizado tanto nos solstícios de inverno e de verão, como nos equinócios da primavera e de outono. No entanto, a maioria de nossas Lojas realiza o banquete ritualístico por ocasião do solstício de inverno, em homenagem a S. João Batista, e no solstício de verão, em homenagem a S. João Evangelista. Outras realizam no equinócio da primavera. Como realizar o banquete ? Para realizar uma sessão de Loja de Mesa e o respectivo banquete, o Venerável Mestre deve decidir pela realização do evento, designando uma comissão organizadora para operacionalizar o acontecimento. Encerrando, esperamos ter conseguido transmitir para os irmãos leitores destas notas o verdadeiro e rico significado do Banquete Maçônico, na esperança de podermos, mais dia menos dia, ter todas as nossas Lojas Simbólicas realizando anualmente uma Loja de Banquete.
Fonte : JB News
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