O nosso comportamento no convívio social é invariavelmente moldado por força das circunstâncias que nos cercam, em meio às quais se destacam a “SUPERSTIÇÃO” e a “FÉ.” Essas duas superinfluências agem em nossas mentes e prestam-se, ambas, como instrumentos norteadores da conduta de incontável número de pessoas espalhadas pelo mundo afora, embora subsistindo de formas dissociadas e distintas. Isto porque a primeira, a “SUPERSTIÇÃO” é uma crendice vã sem explicação lógica do ponto de vista racional, que apresenta probabilidades locupletadas notadamente de incertezas e inverdades, que gera expectativas enganosas, especialmente, em torno de acontecimentos futuros cujas causas e ocorrências são atribuídas a fatores como sorte ou azar, no primeiro caso, pela esperança, pelo desejo de que algo de bom aconteça e no segundo, pelo medo, pelo temor de que algo de ruim também possa acontecer.
A “SUPERSTIÇÃO” pode influir na conduta humana, afetando seus hábitos e provocando mudanças de comportamento. Ela é algo que nasce do nosso próprio intelecto, do nosso modo de pensar e de como procuramos entender e admitir os resultados de certos fenômenos quando desconhecemos seus verdadeiros fundamentos e as razões que os justifiquem, ou nos faltam bases científicas para compreendê-los. Ela já se tornou parte integrante do folclore brasileiro estando, hoje, espalhada por todos os rincões do nosso território, sendo minoria os que não acreditam na hipótese de que “aquilo que acontece de forma casual” na vida das pessoas trazendo-lhes felicidade, ou conduzindo-as a algum estado de insatisfação ou sofrimento, seja decorrente de força sobrenatural.
Quando nos identificamos como supersticiosos, em muitos momentos do nosso dia-a-dia nos vemos diante de circunstâncias em que somos levados ao cumprimento de falsos deveres, ou ao cerceamento de nossa liberdade, deixando de fazer alguma coisa simplesmente porque aceitamos como inconteste a procedência de inexplicáveis forças sobrenaturais ou nos curvamos diante de afirmações divinatórias, acatando-as de modo incondicional pelo temor de que, se assim não agirmos, algo de ruim poderá nos acontecer. Isso se verifica, por exemplo, quando as previsões do nosso horóscopo, não nos sendo favoráveis em determinado dia, emitem-nos sinais de alerta induzindo-nos à supressão ou ao adiamento de certos compromissos, ou ainda, recomendando-nos cautela e prudência no momento de agir.
Há várias disciplinas inseridas no campo das superstições como a adivinhação, a cartomancia, a alomancia, a acultomancia, a aeromancia, o curandeirismo, a magia, a quiromancia, o tarô etc., que se aproveitam da maleabilidade de milhões de mentes incautas para subjugá-las, submetendo-as à aceitação de premonições que não passam de afirmações inverídicas sobre acontecimentos futuros, mas incontáveis também são os paradigmas de superstições que têm suas origens na própria cultura humana, representados por objetos, números, animais etc., sobre os quais paira a falsa convicção de que sejam possuidores de certo magnetismo ou força invisível capaz de atrair a sorte ou o azar.
Apesar de tais crendices estarem fazendo parte da consciência de muita gente, não foi possível até os dias atuais chegar-se a uma comprovação racional ou científica de que tais objetos, animais, números etc., sejam mesmo instrumentos preferidos como anteparos ideais à manifestação de força sobrenatural ou magnética em nível suficiente para fazer com que o desejável ou o indesejável possa se tornar realidade.
Seguindo-se pela mesma linha em que permeiam as supertições, vê-se ainda que, em outras inúmeras e diferentes situações, os efeitos originários das relações surgidas com as respectivas causas, estão para nós justificados ante a aceitação de que, sorte ou azar são fenômenos que decorrem, conforme o caso, da “força do pensamento positivo ou negativo”, da “força do destino”, do “poder invisível dos astros”, do “poder invisível dos ritos mágicos”, do “poder invisível dos espíritos” e assim por diante.
Dentre as referidas disciplinas encontra-se também a astrologia, uma pseudociência apoiada por religiões ligadas à prática de magias negras, que surgiu baseada no fundamento de que a personalidade, a vida e o destino das pessoas, aqui na terra, estão sob a influência dos corpos celestes. Referida disciplina tem seus fins voltados também à prática de atividade divinatória por meio do que, com jogo de palavras e um elenco de condicionantes, elabora o que se convencionou chamar de mapa astral, cujo conteúdo tem como objetivo a assertiva de acontecimentos futuros.
O aparecimento dessa pseudociência, provavelmente no terceiro milênio a.C., colaborou em muito para que a “SUPERSTIÇÃO” tivesse sua aceitação ampliada, pois embora se tratando de processo de enganosas conclusões, foi aquilo que faltava para dar confiança aos supersticiosos afim de que pudessem entender que circunstâncias meramente fortuitas, que produzem efeitos positivos ou negativos na vida deste ou daquele indivíduo, não são obras do acaso, e sim, de poderes sobrenaturais exercidos pelos corpos celestes sobre tudo o que aqui vive e reina.
Porém, convém ressaltar que, aceitar os efeitos das causas em que repousam as superstições como decorrência de influência dos corpos celestes, ou da ação de forças sobrenaturais, é o mesmo que adotar postura contrária à verdade e à razão.
Há quem afirme que as superstições são de origem muito antiga e remontam ao tempo em que o ser humano tinha uma visão mágica do mundo, o que o levava a acreditar que diversos fatores sobrenaturais pudessem interferir no seu destino.
A segunda superinfluência, a “FÉ” é, sem dúvida, uma das maiores formadoras da consciência e da conduta humana – aqui considerada em sentido lato – é sentimento de total crença intimamente ligada à esperança, à confiança, à credibilidade em algo material ou não, que existe (ainda que sem provas) ou que, certamente, ainda possa acontecer.
Ela é um sentimento de confiança, de esperança, que nos induz a termos certeza de que aquilo em que recai a nossa crença possa, em dado momento, acontecer ou, simplesmente, mudar nossas vidas para melhor. Do ponto de vista religioso, ela é a inspiração basilar de todos os textos bíblicos e sua origem remonta ao tempo em que tais textos foram escritos. A “FÉ” pode animar-nos, nos consolar e nos confortar, dependendo do estado emocional ou físico em que estivermos vivendo.
A “FÉ” não nos coloca diante de expectativas dúbias, enquanto que a “SUPERSTIÇÃO” , ao contrário, não se manifesta fundamentada na verdade. Entre ter fé ou ser supersticioso, parece não ser tão relevante a diferença existente, mas, inquestionavelmente, a lacuna que existe separando uma questão da outra tem a similitude de uma distância imensurável.
É sob o manto das superstições que se abrigam as inverdades, as enganações, as mentiras, as coações de ordem psicológica que privam o homem em sua liberdade de agir, que o impedem do uso da razão, que degradam sua consciência, que o condicionam ao exercício de atitudes irracionais, ao cumprimento de falsos deveres e a ilusórias reverências a objetos, coisas, animais etc..
Parece-nos então, ser sem sofismas e procedente a afirmativa de que a “SUPERSTIÇÃO” nada mais é do que algo enganoso, pois se baseia em ideias e não na realidade sensível, ou ainda, um conjunto de caracteres claramente identificados como responsáveis pelos efeitos negativos que influenciam a mente humana.
Sabe-se que a maçonaria, instituição cujos fins supremos são a LIBERDADE, A IGUALDADE E A FRATERNIDADE, por seus princípios, fundamentos e normas, bem como por se tratar de escola de aprimoramento moral, intelectual e espiritual do ser humano, não admite a “SUPERSTIÇÃO” por entender que:
a) ela priva o homem em sua liberdade de agir;
b) ela degenera a consciência humana;
c) ela é uma atitude irracional;
d) ela leva o homem a falsas reverências a objetos, coisas, animais, números etc.;
e) ela não se fundamenta na verdade;
f) ela leva o homem ao cumprimento de falsos deveres;
g) etc..
Assim sendo, eis que surge uma indagação em busca de resposta e quem deve se manifestar é a Ordem Maçônica, vez que a “SUPERSTIÇÃO” sempre foi algo não aceito em seus princípios normativos e em seus rituais. O que se busca entender é a razão do êxito alcançado pelas Lojas Maçônicas na seleção de seus candidatos, ao que se presume não supersticiosos, extraídos do seio de uma coletividade em que quase todos os seus integrantes, de alguma forma são influenciados pela “SUPERSTIÇÃO”.
A maçonaria trabalha inspirada na virtude, na verdade, na justiça, defendendo a liberdade, combatendo a ignorância, o erro, o vício, os preconceitos vulgares e entende que é regulando os costumes da humanidade pelos princípios eternos da Moral que poderemos dar à nossa alma o equilíbrio de força e sensibilidade tão necessário à nossa evolução rumo ao conhecimento da Ciência da Vida, síntese do mais amplo aperfeiçoamento que é a Sabedoria.
Centenas de milhares de pessoas já devem ter lido ou ouviram dizer que “ninguém é perfeito.” Isso mesmo! E a maçonaria sabe que se sair por aí à procura de alguém tão especial, que preencha os requisitos do perfil ideal por ela desejado, ou seja, sem defeito, santo, mais fácil seria fechar suas portas do que encontrar esse alguém. Por isso é que seus candidatos não precisam ser santos, nem perfeitos, e podem até ser supersticiosos, mas devem ter, no mínimo, capacidade de raciocínio e estarem dispostos a aceitar mudanças em seus respectivos comportamentos, sem o que não haverá progresso, nem aprimoramento dentro da Ordem.
Anestor Porfírio da Silva
M.I. e Membro da ARLS Adelino Ferreira Machado
Or. de Hidrolândia – Goiás
Membro do Ilustre Conselho do Grande Oriente do
Estado de Goiás