“O que é violência? A violência não se restringe ao físico, porquanto ela está presente, de maneira muito mais abrangente, nas expressões psicológicas da convivência. Todos os dias ferimos uns aos outros; o fazemos verbalmente, gestualmente, mentalmente, e há os que ferem fisicamente.
O ego é violento. Há violência no olhar que despreza ou atemoriza, na boca que vocifera ou debocha; ele, o ego, na via da ambição por mais, por se impor sobre a vontade dos demais, é o que no fim leva o homem à guerra. Um olhar, um gesto, um golpe, uma bomba.
Em relação à violência, no sentido tradicional, é comum retaliar. Você me bate e eu bato em você de volta. Um país é agressivo, e isso impele outro país a responder com mais agressividade ainda. Inventaram a posse particular e delimitaram pedaços de terra. Um povo agressivo entra numa terra, e então o “dono” da terra manda os seus navios de guerra para lá.
É isso o que está acontecendo no mundo. Tratar agressão com agressão; e isso é considerado pelo senso comum de massas como ação positiva, ação realista. Esta tem sido a história da humanidade há milhares de anos.
O homem aceitou a guerra como maneira de viver; no escritório, em casa, no trânsito e no lazer a guerra está presente, travestida de opinião de massas, opinião esta fabricada e manipulada pelas elites através da mídia e outros meios, fustigando as fraquezas e os apetites egóicos das pessoas, de modo que a identificação do indivíduo com o seu ego se instalou tão profundamente nas sociedades adoecidas pela competição material, que já não vemos outra forma de sobreviver no meio dos maus sem nos tornarmos igualmente maus, ou seja, intolerantes, impositivos, indiferentes e agressivos.
Nos identificamos com aquilo que não somos, e, por causa disso, competimos para ter mais que os outros; mais dinheiro, mais influência social, mais beleza, mais inteligência. As disputas para se ter mais daquilo que não se é torna o homem mais violento pelo medo de perder as coisas transitórias pelas quais compete. Apesar de sermos eternos, a simples dúvida do porvir nos afasta da possibilidade de viver num estado sadio de tranquilidade. Nas sociedades em que se compete por tudo não existe a paz, porque não é possível estar em paz em meio à competição constante.
Desse modo, as novas gerações vão se tornando mais indiferentes que as anteriores. Erguemos muralhas psicológicas, barreiras de falsa defesa contra a violência verbal, física e emocional das outras pessoas. Vendo que o outro pensa somente nele, sou compelido a pensar somente em mim. Esse modus vivendi desgasta gradualmente as bases da convivência nas sociedades.
Então, deparamo-nos com o cenário da atualidade, quando já adoecidas na mente e no sentimento, as pessoas buscam uma saída, uma fuga a todo custo, seja pelos vícios do prazer biológico, seja no lazer excessivo, seja num medicamento qualquer que lhes restrinja as capacidades cognitivas.
Toda forma de fuga, de distração, de afastamento, corrobora para o sustento da violência, porque o ego continua sendo mantido no centro de importância da satisfação do “eu” mesquinho. Investigando a profundidade da violência, percebemos que todo movimento produzido a partir da violência é violência também.
Portanto, quando há violência, a não-resposta à violência é a ação mais positiva; quando há agressão, a inação é a melhor ação, é a melhor resposta; e é a mais difícil, porque é preciso mais coragem para combater o próprio ego do que para revidar o ataque dos outros.
A questão é: É possível cessar essa tremenda violência dentro de si mesmo? É possível, perante um gesto agressivo, não desejar agir de maneira agressiva?
Pensemos nisso.”
Secretaria Estadual de Gabinete.
Fonte: http://portal.gobgo.org.br