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O Rito Francês, “Antigo ou moderno”?

UM RETORNO ÀS FONTES HISTÓRICAS DA MAÇONARIA

No início da Maçonaria o Rito não era nem “Moderno”, nem “Francês”, nem sequer “Antigo”. Esta unidade ou qualidade ritual foi quebrada em 1751, ao se criar a Grande Loja em Londres que se chamou “dos Antigos”, em oposição à primeira “dos Modernos” criada em 1717. Novos usos rituais foram adotados, mas somente na Inglaterra.

De um lado está a legitimidade da Maçonaria que vem através de rituais sem idade, atemporais, são tempos que poderíamos dizer estão suspensos em usos rituais imemoriais; e que por sua vez são a negação de toda a história: o universo e a decoração familiar da maçonaria que se desdobra dentro de uma a historicidade permanente, onde apenas conta o significado perene dos símbolos e dos ritos. Essa é a ambivalência da Maçonaria.

Mais realidade é inevitável, teimosa e, em parte, vem para roubar o ideal que nós expressamos. É inútil, e até mesmo vão, negar que a Maçonaria é uma instituição social que ao longo de toda a sua história foi se compondo e construindo com os valores de seu tempo, integrando as preocupações humanas e as especificidades culturais que pululam nas lojas que a compõem. Tudo isso, por outro lado, muito confrontado com questões de poder e os discursos de legitimação que não se relacionam apenas ao Templo de Salomão, ou às antigas tradições ambíguas, mas também em acreditar que ela tem uma autenticidade jurídica que justifica sua autoridade perante as instâncias que pretende assumir. Em uma palavra, ela se faz política.

Mas para estruturar seu discurso, a Maçonaria retira amplamente de sua suposta história o necessário para invocar um passado reconstruído, às vezes de patrocínios ilustres, mas falaciosos, de transições prestigiosas, e às vezes um tanto infundadas. Reconheçamos sem hesitação que depois de três séculos, o poder maçônico instrumentalizou amplamente a história maçônica sem ser observado pela mídia.

Os debates em torno do Rito Francês, assim chamado a partir do final do século XVIII e as controvérsias que suscita hoje resultam, portanto, surpreendentes aos olhos dos historiadores.

 A “Querela entre os Antigos e Modernos”, uma mistificação fundacional

Até o final do século XVII havia na Inglaterra certo número de lojas maçônicas operativas cujo número não podemos determinar claramente, mesmo depois de tanto tempo. Afinal de contas, tampouco eram tão numerosas, tanto é que só podemos identificar três delas como existentes no início do século, entre as quatro lojas fundadoras da Grande Loja de Londres de 1717. Duas delas, se diz, teriam sido fundadas no primeiro quarto de século, fato muito provável, embora não haja qualquer documento que possa atestar isso.

É ainda fica por estabelecer em qual loja foi iniciado Elias Ashmole em Warrington em 1646. Loja, por outro lado, aparece no cenário devido à circunstância de reunir uma dúzia de protagonistas que não voltariam a se reunir jamais e, portanto, vemos que se trata de uma associação composta por pequenos comerciantes e artesãos; todos eles essencialmente preocupados com a ajuda mútua, que são principalmente aqueles que fazem parte da assembleia que em junho de 1717 comparece à taverna O Ganso e a Grelha.

Embora o essencial é que aconteceu dentro dos dois anos seguintes à criação da Grande Loja, até aquele momento ainda não havia uma Obediência como tal, e com a chegada de um personagem icônico como Desagulliers, de origem francesa, mas integrado no mundo Inglês, ocorre um tornado nos ambientes maçônicos, ao mesmo tempo sociológico e político. Não se pode esquecer que os círculos intelectuais e aristocráticas da jovem monarquia de Hanover tomaram o poder no seio da instituição maçônica que nascia e a orientaram para um destino radicalmente novo e certamente imprevisto.

O primeiro problema que a Grande Loja precisou resolver, não foi muito que se acreditava o simbólico, nem o ritual; foi o estatuto puramente administrativo e político. Resta mostrar que esta instituição, a seguir dirigida por personalidades de alta extração desejava impor seu jugo às lojas que até então estavam mal organizadas e eram livres, e alegava ter uma legitimidade incontestável para se impor a tais fins ou pretensões ao restante das lojas.

As novas “Constituições” redigidas por Anderson, que certamente foi recrutado especificamente para este fim foram a peça central dessa estratégia, uma vez que (publicadas em 1723), estabelecem desde aquele momento um sistema de submissão das lojas ao mandato de uma Grão-Mestre e seus Oficiais.

É claro que as coisas não foram feitas sem dificuldade, e que as lojas espernearam na hora de serem obrigadas a entregar seus Arquivos- ou seja, sua memória – a alguns Irmãos, antes preferiam algumas delas entregar seus preciosos manuscritos para um novo “auto da fé” que confiá-los ao novo poder Obediencial.

Mas acima de tudo, não devemos esquecer que a obra de Anderson não é apenas um conjunto de textos regulamentares, que começam com uma longa e interessante história da Construção. É sim, sem dúvida, a parte mais reveladora do livro das “Constituições”, o resto é mais copioso.

A operação de comunicação de Desagulliers e Anderson reside em que o interesse de todos eles era se beneficiar da proteção dos poderosos.

A tese trazida como essencial e em poucas palavras é que a Grande Loja nunca teve a intenção de falar sobre a tradição dos Construtores e tampouco de uma nova criação imposta por uma classe social privilegiada surgida nas lojas- para dizer de forma suave- tal questão foi apagada e nunca expressa como tal.

Apenas Anderson é quem deplora em seus receituários históricos, como artifício, que a tradição que se desenvolve sobre pesados argumentos históricos já conhecidos para convencer seus leitores de que a Grande Loja está adormecida porque seus líderes a haviam negligenciado depois de décadas, e a apresenta em seus melhores desejos como a era da paz religiosa e civil, voltando a “despertar” e retomar o lugar que sempre tinha sido seu para o maior dos bens e da própria maçonaria.

Embora os argumentos certamente sejam um pouco grosseiros, mas a operação de comunicação foi um sucesso, pois não parece que a demonstração histórica tenha convencido ninguém, mais parece que o interesse de todos é ter a proteção dos poderes e atender ao trono que em breve chegará. Digamos que a Grande Loja está mais preocupada com a auto promessa de seu fabuloso destino.

Nas passagens, Anderson – ou seus apoiadores por meio dele – criará um precedente em Maçonaria para conquistar uma certa hegemonia. Este conhecimento é o que vai sair como um bumerangue que depois de trinta anos retorna à Grande Loja.

Nesta fase da história maçônica, ainda não se falava nem de “Modernos” ou de “Antigos”, mas é verdade que havia uma certa inclinação cultural própria da sociedade britânica e da maioria dos homens e dos tempos e entre eles dos maçons – que pensam que tudo remonta a um passado antigo, que tinha sido sempre prestigioso e muito respeitável, e que reaparecerá. Digamos que Anderson conhecia bem seus paroquianos a quem dirigiu suas Constituições.

O segundo ato desta comédia se desenrola no final de 1740 em Londres, mas com novos atores: os irlandeses. Uma onda de imigração irlandesa que chega a Londres em 1740, que vêm à procura de um trabalho no território de seus inimigos, os ingleses- o que constitui uma suprema humilhação-, que vêm principalmente de meios mais modestos, entre eles se encontra um bom número de maçons.

É preciso dizer que as origens da Maçonaria especulativa na Irlanda estão cheias de mistério. A documentação é um tanto pobre, embora se saiba de uma loja essencialmente composta por estudantes que em 1688 se reuniu no famoso “Trinity College” de Dublin. Será preciso esperar até 1725-1730 para que seja constituída uma Grande Loja da Irlanda, que vai se impondo pouco a pouco sobre o resto do modelo inglês. Destaquemos que as Constituições de Pennell, adotadas em 1730 pelos maçons irlandeses são uma cópia quase “textual” das Constituições de Anderson de 1723.

A Maçonaria irlandesa, em que pese suas Constituições fossem modeladas sobre as de Anderson, principalmente em alguns pontos, adota diferentes usos rituais. E que os pobres maçons irlandeses que se reencontram em Londres nesses anos 1740 não recorrem aparentemente ao acolhimento fraternal de seus “irmãos ingleses” – Xenofobia anti-irlandesa ou segregação social?

A questão não é uma trincheira, mas os irlandeses tinham certamente a vontade de bom grado de se integrar nas lojas de Londres, se eles próprios não tivessem se colocados contra a Maçonaria Inglesa. Não nos esqueçamos de que havia na Irlanda, toda uma colônia dominada pelos colonos vindos da Grã-Bretanha, e seus quadros dirigentes eram bem recebidos pela aristocracia Unionista intimamente ligada ao poder. Alguns deles serão para o resto, e sucessivamente Grãos Mestres em Londres, Dublin … etc.

No entanto, a Maçonaria irlandesa tinha certos pontos rituais em que adotava usos diferentes daqueles empregados ou desenvolvidos na Inglaterra. Maus intérpretes deduziram uma profunda diferença de natureza entre as duas maçonarias – e nada disso é confirmado nos textos da história -, finalmente será criada em solo Inglês a sua própria obediência. Entre 1751 e 1753 foi estabelecida uma segunda Grande Loja Inglesa “segundo as antigas instruções” e batizada Grande Loja dos “Antigos” em contraposição, como já dissemos à primeira, a dos “Modernos”.

A argumentação é simples. Está o tema andersoniano que acolhe por sua própria conta a nova Grand Loja não como uma reintrodução de uma “antiga” Maçonaria, mas que vem para nos dizer que é mais “autêntica e venerável ” e que se encerra ainda mais nas pretensões de Anderson, relativa à antiguidade da Grande Loja, cuja reivindicação de antiguidade por esta nova Obediência não se funda em nenhuma corrente historiográfica convincente. Ao final de sessenta anos de oposição, com episódios grotescos e jogos intelectuais, finalmente, em 1813, as duas Obediências se fundem para formar a Grande Loja Unida da Inglaterra.

Depois dessa época é quando podemos dizer que existem duas tradições simbólicas e rituais no mesmo universo maçônico, e em função dessa dualidade é que podemos dizer que o Rito Francês deriva da Grande Loja que foi qualificada como “Moderna”, embora toda esta terminologia seja muito tardia, e não existia, portanto, o nome de Rito Francês, mas simplesmente Maçonaria. E ela logo terá uma longa prosperidade na França, e como tal não se definirá como uma alternativa ao Rito Antigo, já que este último também não existia, e podemos dizer que tanto as lojas inglesas quanto as francesas praticavam substancialmente a mesma Maçonaria.

O RITO MODERNO OU RITO FRANCÊS, UMA TRADIÇÃO INDIVISA

Nós realmente temos que dizer que nem sempre temos certeza de quando foi criada a primeira loja na França. É mais do que provável que os maçons em solo francês fundaram suas próprias lojas, de onde vem, sem dúvida a lenda de St. Germain en Laye. É possível, de fato, que dos regimentos jacobitas vindos para a França depois de 1690, pois tinham entre as tropas vários maçons, mas não deixa de ser anedótico, uma vez que a primeira loja de que temos certeza foi criada em Paris em 1725, e está claro que todos os seus membros eram britânicos, seu desenvolvimento e existência se pode dizer que foram discretos, também o foram em relação aos seus membros.

É em 1736 quando boatos começam a surgir em Paris sobre os “freemasons” e será finalmente em 1737, quando aparecem as divulgações dos usos maçônicos com o famoso Receptión d’un free-mason, amplamente difundida pelos serviços do tenente de polícia René Hérault, que acabou por colocar a maçonaria sob as luzes da atualidade. Será necessário então esperar até 1738 para que se designe o primeiro Grão-Mestre francês: Louis Antonie de Pardaillan de Gondrin, Duque de Antin, amigo de infância de Louis XV.

Durante todos esses anos, os primeiros passos da maçonaria franceses foram essencialmente dados por diversos súditos britânicos envolvidos por sua vez, em diferentes graus e em diferentes atitudes – na grande disputa dinástica e religiosa que eclodira após a destituição dos Stuarts na revolução gloriosa de 1688. Depois disso não creio que o resto dos exilados permaneceu em terras parisienses. Além disso muitos deles terão uma grande importância na Inglaterra, um dos mais influentes da época era Charles Radcliffe, Earl of Derwentwater, que encerrará sua carreira sob o machado do carrasco em 1746, um mártir de sua fé católica e estuardista, que foi um dos principais fundadores da Maçonaria na França.

O mesmo pode-se dizer da história da Maçonaria antes de 1751, estamos diante de uma comunidade permanente de interesses entre Paris e Londres; é como se houvesse uma só Maçonaria, e as diferenças que se podia observar entre duas lojas parisienses eram as mesmas que podiam ser observadas entre as lojas Goose and Gridiron dentro de Saint Paul Churchyard, ou a de Louis d’Argent da Rue des Boucheries de Paris, que figuram em 1735 no quadro de membros da Grande Loja de Londres.

Recordemos que Montesquieu é iniciado em 1730 em Londres, na loja Horn e que quatro anos mais tarde, em Paris, assiste a uma sessão da loja de Aubigni-Richmond onde se reúne a fina flor da aristocracia da capital francesa, sob a presidência de Jean-Théophile Desaguliers, antigo Grão-Mestre na Inglaterra, chegado a Paris vindo de Londres. Nessa época, os maçons em ambos os lados do Canal da Mancha- ou Canal Britânico – não se sentiam nem do Rito Francês nem do Rito Moderno, digamos que nada se sabia dele; eles praticavam todos a “Maçonaria” aparecida em Londres no final do século XVII, sob a bandeira da primeira Grande Loja que por um longo tempo seria a única.

Durante uma época ocorreu a criação de usos e os rituais que proliferaram pouco a pouco e de forma simultânea nos dois países, de modo que nos parece abusivo pretender como se pretende dizer que “a França é a filha mais velha da Maçonaria”, quando foi uma espécie de co-fundação da primeira tradição maçônica. A abundante documentação que nos vai chegando nos permite dizer e afirmar isso.

Os mais antigos rituais maçônicos conhecidos são escoceses e remontam a um período entre 1696 e 1710. A análise do ritual e a decoração da loja, para os dois primeiros graus apenas se têm incertezas, e no revelam um mundo sem surpresas. As divulgações inglesas dos anos 1720-1725[1] são fragmentadas e, portanto, sujeitas a alguma cautela, embora tenham plena conformidade global com os rituais escoceses.

Quando chegou à grande divulgação, a de Pritchard em 1730, ela introduziu a novidade do Grau de Mestre fundado sobre a lenda de Hiram, mas os elementos rituais dos dois primeiros graus que expressam não deixam de ser o modelo clássico. Entretanto, em 1737, a primeira divulgação maçônica francesa citada anteriormente, nos expõe os mistérios da recepção do candidato nos primeiros graus – Aprendiz e Companheiro – dentro de uma coerência semelhante e comparável aos textos ingleses precedentes.

Finalmente, as divulgações impressas se sucedem na Franca a partir de 1744 e, geralmente, não mostram inovações importantes. As célebres gravuras de Lebas destinadas a ilustrá-las em 1745, nos permitem penetrar de uma forma viva em uma loja de Desagulliers, de Antin, de Montesquieu e comprovar sem nenhuma dificuldade o fato de ali encontrar os sinais … e por essa mesma razão podemos dizer que a loja é universal em qualquer lugar. A Maçonaria é ritual e simbolicamente una, por isso se pode falar de um “Ritual fundamental”

Um último texto que também fornece um testemunho importante é uma obra intitulada Le Maçon Démasqué” publicada em 1751. Esta divulgação se apresenta como a exposição de um trabalho de uma loja londrina, mas talvez de língua francesa; e nela se observa que há muitos pontos comuns, como revelam as diferentes obras impressas em Paris alguns anos antes, prova de podemos dizer que até então não existia nada mais do que uma maçonaria. Tanto é assim que o dado de 1751 não é qualquer data, é quando a segunda Grande Loja foi fundada pelos “antigos” fazendo finalmente sua aparição, com ela a unidade simbólica e ritual das lojas inglesas se rompe, enquanto que as últimas lojas francesas permanecem fiéis à tradição recolhida e mantida durante vinte e cinco anos.

Por uma ironia da história, a Grande Loja Unida da Inglaterra, que foi fundada em 1813, com base nos usos da Grande Loja dos “Antigos” que prevaleceram sobre os diferentes pontos que partiam da primeira tradição maçônica inglesa da Grande Loja de 1717, cujas raízes ou presença não permanecem a não ser no Rito Moderno, constituindo-se este em uma espécie de conservatório dos mais antigos usos conhecidos da Maçonaria especulativa.

OS FUNDAMENTOS SIMBÓLICOS E RITUAIS DA PRIMEIRA MAÇONARIA FRANCESA
O plano da loja é orientado de leste para oeste e é o venerável que se denomina “Mui Venerável” na tradição francesa – senta-se no Oriente, e o faz diante de uma pequena mesa sobre a qual repousa a Bíblia ou apenas o evangelho de São João, ou um único exemplar do prólogo do mesmo evangelho.

No decurso dos trabalhos, a espada do Venerável é colocada sobre o texto. Três castiçais ou um castiçal de três braços estão ao seu lado. Nada de compasso e esquadro sobre a Bíblia ou o Evangelho. Ao contrário, encontra-se uma almofada pousada no chão ou sobre um móvel em forma de genuflexório diante da mesa do Venerável para que o candidato se ajoelhe e faça a promessa de sua Obrigação. Um esquadro é colocado ou está bordado na almofada. O compasso será aquele que o candidato portará, com uma ponta contra o seu coração para prestar sua promessa ou juramento.

Os dois Vigilantes colocam-se no Ocidente. Esta é a posição mais antiga que tem origem no desdobramento de um único vigilante que existia nos rituais escoceses; é um landmark característico do Rito Moderno. No último quartel do século XVIII, as lojas chamadas escocesas “trabalhavam nos três primeiros graus, e fizeram sua aparição no sul da França e depois em Paris, mas pode-se observar que as lojas conservaram a referida posição “francesa e moderna” dos Vigilantes. A localização deles, um a oeste e uma ao Sul, típica dos “Antigos” não será conhecida na França até o surgimento dos novos rituais elaborados pelas lojas azuis do Rito Escocês Antigo e Aceito em 1804.

A segunda marca ou característica específica do Rito Moderno é a disposição dos grandes lustres no centro da loja, dois a leste e uma a Sudoeste. O exame das instruções permite estabelecer que os candelabros não estão associados aos Vigilantes da loja, uma vez que simbolizam exclusivamente o Sol, a Lua e o Venerável Mestre da Loja.

A terceira característica notável do sistema simbólico dos Modernos é a presença do piso quadriculado ou traçado simbólico no espaço delimitado pelos três grandes lustres. O exame dos documentos iconográficos disponíveis entre 1724 e 1751 mostra que tanto na França quanto na Inglaterra, os elementos essenciais do pavimento mosaico ou quadro de loja – comum aos dois primeiros graus – é que sua disposição segue substancialmente idêntica, de um lado e de outro, com numerosas variações de detalhes. Os “Antigos” ignoram o painel de loja.

Finalmente dizer que o Rito Francês originalmente associa a coluna Norte e a letra J ao Aprendiz, enquanto que o Companheiro tem a Coluna do Sul e a letra B como referência. Adotou-se a fórmula inversa à dos “Antigos”. A partir de 1751 acusou-se os Modernos de ter invertido deliberadamente a ordem das letras e das colunas, conforme nos explica René Desagulliers em seu livro: Les deux grandes colonnes de franc-masonnerie… 1997.

O restante das lojas “escocesas” do final do século XVIII na França mantiveram a disposição moderna dos Vigilantes, e mantiveram a ordem das letras J e B e as Palavras Sagradas. Somente os rituais dos graus simbólicos do REAA a partir de 1804 serão conhecidos na França, a ordem B e J será conhecida através do Guide de maçons Ecossais.

Em relação ao desenvolvimento das cerimônias durante os anos de 1720-1730 mostra-nos com grande simplicidade e brevidade, a cerimônia de Aprendiz – Companheiro mal ultrapassa um quarto de hora, enquanto se dedicava, segundo certos textos, uma hora à “comunicação de suas reflexões“. Sabemos que entre 1720 e 1730, a cerimônia do Aprendiz se realizava em uma hora e não havia alusões aos elementos, nem provas ou comentários.

O candidato com os olhos vendados era admitido em loja e se fazia uma viagem com base em voltas conduzido pelo Segundo Vigilante, por exemplo, colocava-se um pouco de resina nas luzes dos candelabros para causar ruído de crepitação e desse modo assustar o postulante, e não se realizavam provas, nem alusões e, é claro, nenhum comentário.

Em seguida, o recém iniciado prestava sua Obrigação dando três grandes passos orientados dentro da loja, marchando sobre o pavimento de mosaico da loja que, aliás, não é nenhuma zona proibida. A mão sobre o evangelho, o joelho em esquadro, a ponta do compasso no peito direito. Desse modo se jurava guardar segredos e recolher a luz. Por outro lado, sua instrução começava naquele momento e concluía quase no mesmo tempo que a cerimônia. Na maioria dos casos, o recém-iniciado também recebia o grau de Companheiro. Para isso, era necessário dar três voltas novamente, nas quais se lhe comunicavam os novos segredos, incluindo o sinal do grau. A nova simbologia que se dava no referido grau era a letra G e seu significado “Deus ou Geometria”.

Pode-se considerar que a descrição que fazemos corresponde à que realizavam os maçons ingleses e franceses antes de 1750 para os dois primeiros graus, esta assembleia de comunicação simbólica e ritual é o que permite caracterizá-la como Rito Moderno, que não era assim chamado por seus detratores na década de 1750, sendo qualificado como tal mais tarde na França, como Rito Francês.

Surgem assim algumas últimas perguntas: A especificidade do Rito Francês ou Moderno reside apenas nas características simbólicas e rituais? A oposição aos “Antigos” não revestiu com esses planos simbólicos um dos maiores antagonismos intelectuais mais importantes da época…?

Finalmente, o Rito Francês como um “rito de liberação portador de valores humanistas herdados do Iluminismo e, como tal, não é precursor da liberdade absoluta de consciência? De fato, para finalizar, é preciso examinar a última instrumentalização da história maçônica operada a propósito do Rito Francês. A última, mas nem por isso a menor.

O RITO FRANCÊS: UMA IDENTIDADE ESTRUTURAL OU IDEOLÓGICA

O Rito Moderno Inglês, a mais tarde o Rito Francês no continente é o mesmo durante quase sessenta anos de uma luta decisória, mas sem muito objeto contra o Rito Antigo. O conflito foi puramente Inglês, e podemos dizer que teve pouco impacto na França, embora a “bricolagem” historicista de alguns autores tenha contribuído para rotular o conflito como insular, dando, assim, ao Rito Moderno características de origem que seus protagonistas recusariam.

Este não é o lugar para expor em detalhe a famosa querela, embora existam certos elementos que podem ser evocados. Os Antigos denunciavam uma lista de censuras que lhes dirigiam os responsáveis dos Modernos, responsáveis aos olhos de seus oponentes por alterar o depósito inicial da tradição maçônica que os Antigos afirmavam respeitar escrupulosamente.

Tenho para mim que os ataques dirigidos à Grande Loja dos Modernos são muito mais relativos ao abandono de orações nas cerimônias e ao esquecimento das festas de São João. São dois exemplos que comprovam a ideia de que os Antigos representam um movimento  religioso e conservador em oposição aos “Modernos” reputados como mais abertos, tolerantes e liberais, ou em uma palavra “mais modernos”. Sem esquecer que o epíteto atribuído à primeira Grande Loja foi sempre rejeitado por esta, considerando-o como um insulto.

Tudo isso mal resiste a um exame, conforme demonstraremos, já que essas acusações são infundadas. Nada de ideológico distingue realmente os Modernos dos Antigos e, notavelmente, nada relativo às motivações religiosas; a razão de sua oposição inicial é, de certo modo, mais socioeconômica que “étnica”, referindo-nos aos Ingleses e irlandeses, que são dois povos diferentes. Algumas décadas mais tarde, a Grande Loja dos Antigos torna-se mais puramente inglesa que a primeira, assim como sua estrutura sociológica. A fusão final das duas Obediências se produz por tudo isso e os “Artigos da União de 1813″ não se baseiam em considerações simbólicas e rituais, já que isso não era o que separava as duas Obediências.

No final de 1730, o Rito Moderno na França, é aquele que existe como “maçonaria”, que reafirma sua independência e que será aquele que marca seu próprio destino como brilhante por toda a Europa. Eu não falo de Guerra do Rito Francês antes dos últimos anos do século XVIII ou início do século XIX; é somente para distinguir, por exemplo, o Rito Escocês Retificado, o Rito Escocês Filosófico, não esquecendo, por último, de chegar ao REAA; lembremos que as expressões “Rito Francês” ou Rito “Moderno” não aparecem nem nos estatutos do Grande Capítulo Geral da França de 1784 nem no Régulateur.

É preciso definido então que o Rito Francês é sempre um sistema simbólico e ritual com uma grande identificação com o Grande Oriente de França, herdeiro institucional da primeira Grande Loja na França. Também poderíamos perguntar se essa última filiação também tem um significado ideológico? Certamente não. Louis de Clermont praticava o Rito Moderno, mas certamente não era um revolucionário, mas sim foi o último Administrador do GODF antes da Revolução e Montmorency-Luxembourg (Rito Francês) foi o primeiro a emigrar da França.

Confundir a ação histórica do Grande Oriente da França com uma certa vocação “messiânica” do Rito Francês é um absurdo, e pode trazer múltiplos exemplos, embora não seja esse o tema deste artigo. Na segunda metade do século XIX, o GODF se identifica com o combate secular e republicano que é uma coisa com muita honra e o Rito do GODF, o “Rito Moderno” ou Francês dessa época, de Louis de Clermont e de Antin é outra coisa… e nada têm a ver.

O Rito Francês transmite as mais antigas tradições rituais e simbólicas da Maçonaria especulativa. É, digamos que sim, uma ideia fundacional, tal como qualquer historiador pode constatar. Confundir a ação histórica do GODF, – valorosa e nobre – com uma certa vocação “messiânica” do Rito Francês que se presume destinado desde sua origem a defender o ideal secular e estabelecer a República, é um absurdo que o historiador não pode deixar de divulgar.

Sem esquecer a anedota que no final do século XIX, existe uma obediência ultra progressista, fortemente impregnada de anarco-sindicalismo que rejeita os “Altos Graus” e é favorável à iniciação de mulheres, como faz agora e projeta o Grande Oriente de França. Esta obediência tão “avançada e progressista” não era outra senão a Grande Loja Simbólica escocesa que praticava o REAA. A verdade é que a história é implacável.

 

Publicado em:
http://www.ritofrances.net/2010/02/el-rito-frances-antiguo-o-moderno-i.html
Tradução livre do francês por Victor GUERRA MM.: do RF do GODF

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