A importância da aprendizagem na vida humana sempre foi tema de estudos dos mais aprofundados. O aprender é um processo de tal valor para o homem que foram pensados meios educacionais para tornarem a aprendizagem mais eficaz. Entretanto, não é apenas pela via escolar formal que aprendemos. Estamos constantemente aprendendo, sobretudo com a leitura de mundo que fazemos, através de nossas experiências sensoriais.
Estudos da Psicologia chegam a afirmar que o homem começa aprender mesmo no ventre de sua mãe, mantendo um vínculo com o mundo que o cerca através de sentimentos, toques, falas e outros elementos perceptíveis.
Para o pensador Bernard Charlot, aprender é adquirir um saber. Entretanto, para que este saber produza frutos, ou seja, adquira um sentido na vida humana, depende das relações que estabelecemos com o saber. É nessa perspectiva que direcionaremos este breve estudo.
Pelo chamado “senso comum”, desde tenra idade, nós mergulhamos num oceano de dados e ficamos como que extasiados por novas aquisições de conhecimento. Em casa, na rua, na escola, em todos os ambientes em que convivemos, é grande oferta de novas descobertas para compreensão das realidades.
Corrobora com esta proposição o pensamento de Freire:
A curiosidade ingênua, de que resulta indiscutivelmente um certo saber, não importa que metodicamente desrigoroso, é a que caracteriza o senso comum. O saber de pura experiência feito. (FREIRE, 2011, p. 31)
Somos seres sociais e vivemos num mundo que nos oferece uma gama extraordinária de informações. Quando nos apropriamos de certa informação e damos um sentido a este novo conhecimento, adquirimos um saber. Portanto, o saber assume um papel de pertencimento do sujeito.O saber contribui para a personalidade dos indivíduos e para o desenvolvimento de suas habilidades no mundo social. Entretanto a aquisição de saberes práticos como: ler, escrever, fazer contas, apreender elementos da cultura científica ou literária por si só não nos dá o verdadeiro sentido do saber.
Assim, que é que, em um saber, possibilita considerá-lo “prático”? Não é o próprio saber que é prático, mas sim, o uso que é feito dele, em uma relação prática com o mundo. Essa distinção permite evitar falsos debates. (CHARLOT, 2000, p. 62)
Na maioria dos casos, quando se pergunta a um jovem estudante por que ele estuda, a resposta mais comum é que o estudo lhe proporcionará um saber intelectual que o levará a ocupar um melhor posto no mercado de trabalho. O saber torna-se utilitário e mercantilizado. Sem dúvida nenhuma que a escola é um espaço para a ascensão social. O desejo de escolarização encerra um sentimento de melhoria das condições de vida. Por isso, a maior parte dos jovens não sente prazer em aprender algo que não lhe seja imediatamente útil.
Constantemente confunde-se educação com escolarização. Na verdade, a escolarização é apenas uma parte da educação. Grande parte da apreensão de mundo que o cidadão carrega em seu bojo intelectual é advinda da vivência em família ou em outros ambientes sociais fora da escola.
Nos tempos em não existia a escola formal, nas sociedades primitivas, era a família que desempenhava o papel que agora denominados “escola”. Também é bastante comum associarmos o conhecimento com a bagagem intelectual que absorvemos dos livros, dos estudos, dos eventos científicos… Porém, poderia ser definido o saber principalmente como a compreensão inteligível da realidade, que o sujeito humano adquire através de suas experiências.
A educação formal nos permite absorver conteúdos intelectuais, tais como: aprender gramática, matemática, desenvolver a reflexão filosófica, compreender os elementos históricos que compõem um determinado acontecimento na humanidade, situar-se na geografia do mundo, entre outros. Porém, a escolarização por si só não nos capacita a compreender o mundo ou construir referências para compreender o que é a vida. Necessário se faz que o aprender adquira um sentido mais significante do que o saber.
Compreender as realidades que nos cercam de forma mais ampla e significativa deve ser o objetivo central de toda prática educativa. É preciso se apropriar do conhecimento de forma que ele faça parte da nossa vida. Segundo a análise de Freire (2011), quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender, tanto mais se constrói e desenvolve a curiosidade epistemológica. E nesse ponto de vista, o aprender adquire mais importância do que o saber.
Aprendemos, sobretudo, fazendo. A única maneira de aprender a nadar é praticar a natação. O que vale para as habilidades motoras, guardadas as devidas proporções, serve para as habilidades mentais. A única maneira de aprender a pensar é exercitar o pensamento.
Todo indivíduo aprende e, através da aprendizagem, desenvolve os comportamentos que o possibilitam viver. Todas as atividades e realizações humanas exibem os resultados da aprendizagem.
A partir desse entendimento, podemos afirmar que aprender é um ato de dentro para fora do indivíduo. Ninguém pode aprender pelo outro. Querer aprender, entretanto, embora seja o primeiro passo, não é o suficiente para se adquirir um saber. É necessário, pois, estar aberto para o novo e, sobretudo, identificar-se com aquilo que vai ser aprendido.
Encerro este ensaio com a verdade inquestionável do mestre das letras Guimarães Rosa: “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”.
Ir.’. WELLINGTON LOPES DE ALBUQUERQUE -M.’. M.’. 7°
A.’.R.’.L.’.S.’. PRINCESA DO SERTÃO – Nº 8
ORIENTE DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS-AL
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: paz e Terra, 2011.
Fonte: https://focoartereal.blogspot.com.br/search?updated-max=2017-09-20T20:48:00-03:00&max-results=1