– Meu Irmão, de onde vens?
– De uma loja de S. João, Venerável Mestre.
– Que se faz lá?
– Exalta-se a virtude e combate-se o vício.
– Que vens aqui fazer?
– Vencer as minhas paixões, submeter a minha vontade e realizar novos progressos na Maçonaria.
– Devo então presumir que és maçon?
– – OS MEUS IRMÃOS RECONHECEM-ME COMO TAL!
Logo na cerimónia de Iniciação o nóvel Maçon é instruído sobre a forma de reconhecer e de ser reconhecido Maçon.
Aprende assim um determinado SINAL, um específico TOQUE, que representa o pedido da PALAVRA SAGRADA, como responder a esse pedido e que palavra é essa.
Uma razoável memória permitirá que, a partir daí, saiba como proceder para que os seus Irmãos Maçons o reconheçam como tal.
Mas esta é a mais básica das básicas noções que o nóvel Maçon recebe então quanto a esta matéria. Com efeito, mui fraco Maçon seria aquele que se limitasse a confiar em tais actos externos para que o reconhecessem como tal. Atrevo-me mesmo a dizer que só quem se tivesse limitado a passar pela cerimónia de iniciação, e mesmo assim de forma desatenta, poderia admiti-lo.
Na verdade, todos sabemos que em Maçonaria tudo é simbolicamente transmitido, o que vale por dizer que através de um translúcido véu, para que quem o receba, entrevendo, medite e, meditando, conclua e, concluindo, aprenda.
Todos sabemos que, em bom rigor, em Maçonaria nada se ensina, apenas se coloca os ensinamentos à disposição, para que quem quer saber, observe, pense e aprenda. É por isso que costumo dizer, em iconoclasta simplificação, que a Maçonaria se aprende por osmose…
Assim, aquele que quer ser reconhecido como Maçon pelos Maçons não deve limitar-se ao que explicitamente lhe foi ensinado na instrução incluída na sua iniciação.
Melhor será que não esqueça que, recém-iniciado, ainda está aprendendo a aprender e só por isso lhe deram clara e directamente o que pomposamente quem desconhece a essência da Maçonaria considera “profundos segredos”.
Assim ficará, por breves momentos o nóvel Maçon convencido que ficou sabendo “excelso segredo” mas, aprendendo a aprender, em breve aprenderá que, como já há pouco exclamei, tal “excelso segredo” não passa de uma muito básica de entre as básicas noções que deverá apreender e que irá apreendendo.
Ao invés, o que deve um Maçon fazer para que seja reconhecido como tal pelos seus Irmãos, foi-lhe transmitido, sim, na sua iniciação, mas como tudo o resto que merece ser retido em Maçonaria, de forma encoberta, indirecta, para que, em devido tempo, medite e aprenda por si, bem melhor do que se lhe fosse directamente ensinado, pois dessa forma mais trabalhosa e difícil de aprender sempre resulta que não apenas se sabe ou memoriza, antes se interioriza e compreende e só aquilo que é adequadamente interiorizado e compreendido é digno de ser tido como vero Conhecimento.
Então, que aprendi eu sobre a forma de ser reconhecido Maçon pelos meus Irmãos?
Aprendi que, para me ser dado acesso ao Templo onde meus Irmãos estavam reunidos, necessário foi que alguém em quem todos confiavam, o Irmão Experto, a todos garantisse que eu era “livre e de bons costumes”.
Livre sou e livres somos sem grande mérito nosso, com muito mérito daqueles que nos antecederam , pois de há muito que a escravatura foi abolida em nossas terras.
Mas “de bons costumes” tive de ser para merecer entrada no Templo e consequentemente de bons costumes tenho de continuar sendo, se nele quero permanecer.
Primeira conclusão pude então tirar: para ser reconhecido como Maçon pelos meus Irmãos necessário é que permaneça de bons costumes, isto é, íntegro, honesto e de modo geral cumpridor das minhas obrigações perante Deus, eu próprio, a minha família e a sociedade.
Mas se tal é condição necessária para ser reconhecido maçon pelos meus Irmãos, não é, porém, condição suficiente – mesmo conhecendo eu o SINAL, o TOQUE e a PALAVRA SAGRADA…
Importa assim continuar buscando este pequeno Graal, pomposa forma de referir a busca do Conhecimento que vale a pena conhecer!
E recordo então que, a dado passo, ouvi mesmo alguém dizer-me que o que estava diante de meus olhos era o símbolo da cegueira em que se acha o homem dominado pelas paixões e mergulhado na ignorância.
Meditando, pude então a segunda conclusão chegar. Para além de ser livre e de bons costumes, para ser reconhecido como maçon pelos meus Irmãos haverei que dominar minhas paixões, e não por elas ser dominado, e procurar sair da profana ignorância, isto é, utilizar os instrumentos que a Maçonaria, a Loja, o Venerável Mestre, cada um dos meus Irmãos, me vão proporcionando, para ir aprendendo, conhecendo e, sobretudo, CONHECENDO-ME, nas minhas forças, sempre poucas, e fraquezas, sempre demais.
Mais um passo avancei, mas ainda não tenho a tarefa terminada, mais caminho tenho para caminhar!
Mais adiante, ouvi ser-me dito que o homem justo era corajoso e, tendo-me sido perguntado em quem depositava eu minha confiança me ter sido sussurrada a resposta de que essa era depositada em Deus.
Pensando, conclui então minha terceira conclusão: para ser reconhecido maçon pelos meus Irmãos haverei que ser livre, de bons costumes, dominador de minhas paixões, justo, corajoso, conhecedor, sobretudo de mim mesmo, e crente.
Mas, atenção!, ser justo não é ser justiceiro, ser corajoso não é ser temerário, ser crente não é ser beato. É necessário, como mais adiante ouvi ser-me dito, “o justo equilíbrio de força e sensibilidade que constitui a sabedoria, isto é, a ciência da própria vida”.
Finalmente, já reconhecido como maçon, foi-me chamada a atenção para os deveres de beneficência de um maçon, mais uma vez temperados pelo justo equilíbrio, pois “a caridade deixa de ser uma virtude quando é praticada em prejuízo dos deveres mais sagrados e mais prementes: uma família a sustentar, filhos para educar, pais velhos a manter, compromissos civis a preencher”.
Meditando sobre estas noções de fraternidade e solidariedade, pude assim chegar à quarta conclusão, que tive por final: para ser reconhecido maçon pelos meus Irmãos haverei que ser livre, de bons costumes, dominador de minhas paixões, justo, corajoso, conhecedor, sobretudo de mim mesmo, crente, fraternal e solidário.
E tendo chegado a esta putativamente definitiva conclusão, preparei-me, para, satisfeito, descansar. Porém, ocorreu-me então que, tendo Deus descansado apenas ao sétimo dia, grande prosápia minha seria pretender poder fazê-lo após apenas quatro conclusões!
E então pensei mais, e espero que melhor, e cheguei a mais outra conclusão (que será assim a quinta…), a de que estava cometendo o pecado do orgulho ao pensar que destas meditações alguma pólvora de particular valor descobrira, pois, afinal, mais bem escrito do que eu escrevera, mais simples do que eu arrazoara, tudo está no texto por onde começámos e por onde, completando o círculo e o ciclo da busca, é asado concluir (e esta será portanto a sexta e última conclusão, a que finalmente me habilitará a descansar, sem remorso superior ao que deriva da minha reincidente prosápia de, pela segunda vez em apenas dois parágrafos, ousar comparar-me ao Criador…).
– Devo, então, presumir que é Maçon?
– Os meus Irmãos reconhecem-me como tal.
– O que é um Maçon?
– É um homem nascido livre e de bons costumes, igualmente amigo do rico e do pobre, desde que sejam pessoas de bem.
– Que significa nascer livre?
– O homem que nasceu livre é aquele que, tendo morrido para os preconceitos comuns, renasceu para a nova vida que a iniciação confere.
– Quais são os deveres de um Maçon?
– Evitar o vício e praticar a virtude.
– Como deve um Maçon praticar a virtude?
– Colocando acima de tudo a justiça e a verdade.
– Como poderei reconhecer que és Maçon?
– Pelos meus sinais, palavras e toques.
– Como interpretas essa resposta?
– Um Maçon é reconhecido pela sua forma de agir, sempre correcta e franca (sinais); pela sua linguagem leal e sincera (palavras); por fim, pela solicitude fraterna que manifesta para com todos a que se acha ligado pelos laços da solidariedade (toques).
Termino com a esperança de que os meus Irmãos não necessitem de se certificar que eu conheço os sinais, palavras e toques, para que me reconheçam como Maçon. Mas, se algum desejar interrogar-me sobre eles, que a minha memória me permita sempre responder satisfatoriamente. E, se porventura a memória me trair e eu falhar essa prova, que aquele Irmão que me interroga, em face do que conheça de mim … apesar disso me reconheça como Maçon, pois que espero merecer sempre poder dizer que
OS MEUS IRMÃOS RECONHECEM-ME COMO TAL!
Rui Bandeira
Fonte: http://a-partir-pedra.blogspot.com.br/2008/01/os-meus-irmos-reconhecem-me-como-tal.html