De repente podemos dizer que semelhante pergunta já deve ter sido formulada por alguns milhares de vezes e, todos nós pertencentes à Instituição Maçônica, somos sabedores que são muito raros os Maçons que não tiveram de respondê-la…
Geralmente os conhecidos “profanos”, fazem esse tipo de questionamento quando acham estarem perante um Iniciado nos Augustos Mistérios. E, se bem pensarmos, na maioria das vezes, nos sentimos um tanto constrangidos em darmos uma resposta, pois se bem pensarmos, essa não é tão simples quanto à pergunta formulada e em muitas das ocasiões torna-se um tanto embaraçoso até mesmo para experientes Irmãos e até mesmo para estudiosos, fornecerem algo com bastante solidez.
E não tem em hipótese alguma faltado explicações eruditas e até mesmo muito sábias, geralmente entusiásticas, nas obras dedicadas ao estudo da Maçonaria, entretanto tão avassalador é o seu número, tão diferenciados os aspectos definidos nesses pronunciamentos, que tornam mesmo difícil uma definição concisa e satisfatória, ao mesmo tempo, definindo a Instituição Maçônica em seu todo. Tais definições incompletas encontramo-las às mancheias no decorrer de qualquer pesquisa, sem haver tampouco, uma que nos viesse agradar em sua plenitude.
Para esse, a Maçonaria é uma escola de inúmeros deveres, de formação cívica e moral; para outro, ela não é outra coisa senão uma ciência objetivando a busca da verdade considerada divina. Se estes veem nela uma instituição orgânica de moralidade cuja finalidade é dissipar a ignorância, combater o vício e inspirar amor à humanidade, aqueles a consideram como uma instituição filantrópica, filosófica e progressista, tendo por base a existência de Deus e a imortalidade da alma, por objeto o exercício da beneficência, o estudo da moral universal, das ciências e das artes, assim como, a prática de todas as virtudes. A nosso ver, é quase impossível definir a Maçonaria de maneira singela e precisa que a possa abranger em toda a sua extensão. Devemos, portanto, recorrer a algumas dessas definições que nos pareceram ser suscetíveis de focalizar com maior objetividade esse ou aquele aspecto da Instituição Maçônica.
Aí, que cada um julgue da maneira que melhor lhe convier.
Para Luiz Humbert Santos, conforme afirmação feita por ele próprio em “Prontuário de La Masoneria”, essa é a “ciência fundamental da liberdade, é a própria civilização que modifica e se transforma como matéria e não como os astros-reis que acabam se consumindo por si mesmos através dos séculos, à força de produzir energia, luz e calor. Não é uma fórmula, mas um laboratório no qual se analisa e estimula a obras dos homens, sem dogmatismos científicos e sem verdades indiscutíveis.”
Já, os Rituais Maçônicos ensinam que “a Ordem Maçônica é uma associação de homens sábios e virtuosos, que se consideram irmãos entre si, e cuja finalidade é viver em perfeita igualdade, intimamente ligados por laços de recíproca estima, confiança e amizade, estimulando-se uns aos outros na prática das virtudes. Em si, é um sistema de moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos.”
Para algumas pessoas, a Maçonaria é a ânsia pela perfeição, a peleja pela procura da verdade, seja ela científica, moral, religiosa, etc. É a instituição que prega o amparo aos desvalidos, à liberdade, a igualdade e a fraternidade, sendo a Maçonaria fundada sobre as bases mais sólidas: o respeito às leis e o amor à virtude.
E enquanto os anglo-saxônicos a julgam “uma ciência de moralidade, ilustrada por alegorias e iluminada por símbolos”, os franceses a consideram como uma instituição que tem por finalidade o esclarecimento e o melhoramento dos homens pela iniciação científica, o desenvolvimento da vida moral e do sentimento religioso, assim como a realização da Fraternidade Universal. Em nosso país, o escritor Manoel Arão de Oliveira Campos definiu a Maçonaria como a Sabedoria, não em si própria, mas pelo modo por que ela se projeta nas almas, visto que, escreveu ele: “… a Sabedoria deve ser fonte de toda a virtude e de toda a fé, ainda porque, em última análise, estes dois termos se confundem. A virtude que não é parte da sabedoria não pode ser perfeita, a fé que não participe da sabedoria, também não pode ser sólida. Por quê? Por um simples princípio de lógica aplicada ninguém pratica realmente o bem se não o conhece ninguém tem fé verdadeira, se não conhece igualmente o objeto de onde decorre a fé.”
De acordo com o autor acima mencionado, a Maçonaria é, pois, uma escola de Sabedoria e de Fé, uma peregrinação para o melhor e para o perfeito, uma busca pela certeza e pela luz. E, ele ainda continua, dizendo: “Ela não é uma política, nem uma religião, nem uma filosofia, no sentido particularizado de todas essas coisas. Ela é tudo isso, entretanto, do mesmo tempo política apartidária, religião sem dogmas e filosofia sem conclusões obrigatórias. Ela é tudo que reúne o anseio humano de perfeição, tudo que dá asas ao intelecto e liberta da escravidão das seitas, tudo o que é luz posta ao caminho da vida para a peregrinação interminável porque justamente busca a perfectibilidade inatingível.” Finalizando a sua definição sobre Maçonaria, escreve ainda Manoel Arão de Oliveira Campos: “Para ser tudo isto que se resume em servidão da sabedoria, ela tem de acionar por vários meios e tem que adotar uma escola em que a moral e o intelecto se deem a mão e se aperfeiçoem, em todos os dons do espírito. O ser infinitamente bom, e infinitamente sábio, tal é a sonhada perfectibilidade. Digamos que estes dois atributos são a revelação integral da inteligência.”
Poderíamos obter páginas e mais páginas, com tais pronunciamentos, pois costumam os homens definir as coisas de acordo com as impressões e os sentimentos que neles despertam. Mas vale a pena citar ainda alguns dos conceitos suscitados pela Maçonaria Especulativa. Assim sendo, em sua “História Geral da Maçonaria”, Emmanuel Rebold escreveu: “O verdadeiro objetivo da Maçonaria pode resumir-se nestas palavras: desfazer nos homens os preconceitos de castas, as convencionais distinções étnicas, origem, opinião e nacionalidade, aniquilar o fanatismo e a superstição, extirpar os ódios raciais com eles, o açoite da guerra; em uma palavra chegar pelo livre e pacífico progresso a uma fórmula de eterna e universal justiça, segundo a qual, todo ser humano possa desenvolver livremente as faculdades de que seja dotado e possa desenvolver livremente as faculdades de que seja dotado e possa vir a concorrer cordialmente e com todas as forças para a comum felicidade dos seres humanos, de sorte que a Humanidade venha a ser uma única Família de irmãos unidos pelo afeto, cultura e trabalho.”
Por sua vez, o grande historiador britânico, Robert Preke Gould, autor da “History of Free Masonry”, assim escreveu: “A Maçonaria surgiu e se desenvolveu com uma completa independência da Igreja e do Estado, não obstante as perseguições de que foram objeto os seus filiados em algumas nações, sendo tolerados em outras e malquistos em geral, como quase todos os organismos humanitários que se propõem a fins coletivos. A entidade que começou por ser um modesto núcleo constituído por indivíduos que sentiam entusiasmo por seus ideais, chegou a ser uma força social poderosa que contou com milhares de adeptos em todos os continentes. As tentativas para dissolvê-la foram muitas, porém, quase sempre infrutíferas, já que a Fraternidade foi se estendendo por toda parte, tendo contribuído em medidas bastante amplas para o adiantamento dos povos exercendo saudável influência na ordem moral, fortalecendo o desenvolvimento das ideias libertadoras.”
Já o maçom Adão Weisshaupt, tão mal compreendido pelos seus contemporâneos e tão caluniado pelos absolutistas e particularmente pelos seus mais ferrenhos adversários, os jesuítas, de quem foi aluno, escreveu em “Le Signifiqué de la Franc-Maçonnerie”, as seguintes palavras: “A Maçonaria é um sistema sacramental que, como todo sacramento, tem um aspecto externo e visível, constituído pelo cerimonial, suas doutrinas e seus símbolos que se podem ver e ouvir, e um aspecto interno, mental e espiritual, oculto sob as cerimônias, a doutrina e os símbolos e só proveitoso ao maçom capaz de se valer da imaginação espiritual e de descobrir a realidade existente por trás do véu do simbolismo externo.”
Na verdade acreditamos que seja este o ponto em que fracassa a maior parte dos que se iniciam na Maçonaria. Inúmeros deles se afastam sob a alegação de nada ter encontrado que os empolgasse na Instituição Maçônica. Se a procuraram visando vantagens pessoais imediatas, o que geralmente acontece isto pode ter de fato acontecido, mas se foram em busca de valores espirituais e não os encontraram é que não os souberam procurar. Em geral veem apenas o fruto e aguardam que alguém o abra para eles e lhes entregue o que existe em seu âmago que cada um deles devia procurar extrair. Outros não conseguem ver na Maçonaria, o que dela observou o grande filósofo Voltaire, pseudônimo de François Marie Arouet, quando escreveu as seguintes palavras: “A Maçonaria é a entidade mais sublime que conheci. É uma instituição fraternal, em que se ingressa para dar e que procura o meio de fazer o bem, de exercitar a benevolência.” Este é outro ponto que afasta da Maçonaria todos os que nela entram para explorá-la. Ao verificarem que se deve dar e não receber, muitos deles se separam, livrando a Ordem de sua presença interesseira e egoísta. O Maçom é exercitado a dar, mas não são dados apenas valores materiais, e foi o que outro grande maçom, Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar y Palacios Ponte-Andrade y Blanco – Simón Bolívar entendeu perfeitamente ao escrever: “A Maçonaria é uma praia acolhedora. Ditosos aqueles que podem alcançá-la! Felizes aqueles que podem chegar até ela, vencendo as tempestades do pensamento. No seio da Maçonaria adquirem-se grandes virtudes e descobrem-se grandes gênios da ação e do pensamento. Na Maçonaria, o homem aprende a elevar-se sobre o vulgo, não duvida em esquecer, quando é necessário, de si mesmo, desde que possa oferecer aos seus Irmãos um pouco de doçura na existência. É uma Instituição sublime.”
A.Tenório Cavalcante de Albuquerque, saudoso membro da Academia Maçônica de Letras, que vasculhou a história e a literatura brasileira sobre a Maçonaria deste país, facilitando desta forma o trabalho dos estudiosos que a tornaram objeto de suas investigações, recolher valiosos depoimentos de padres e religiosos maçons, alguns dos quais também citaremos. Assim, o famoso pregador e prócer da Independência do Brasil, Cônego Januário da Cunha Barbosa, chegou a exclamar em um de seus discursos: “Filha da ciência e mãe da caridade, fossem as sociedades como tu, ó santa Maçonaria, e os povos viveriam eternamente em uma idade de ouro. Satanás não teria em cada homem um eleito!”
O Padre Manoel Inácio de Carvalho, após considerar que a Maçonaria era a virtude personificada, acrescentou que “… ela não tem um símbolo que não seja a aplicação de uma verdade transcendente. Não possui um só mistério que não cubra a prática de alguma virtude.” É notável o entusiasmo desses membros co clero católico para com uma instituição tão virulentamente atacada pelas autoridades eclesiásticas, mas o Bispo D. Sebastião Pinto do Rego mostrou ainda maior entusiasmo em sua apreciação da Maçonaria: “Jesus Cristo instituiu a caridade. A Maçonaria apoderou-se dela e constituiu-a sua mestra. É sob os seus auspícios que não morre a sua esperança e se robustece a sua fé. Bendita seja esta irmã da Igreja na virtude!”
Estas poucas manifestações parecem-nos suficientes para servirem de exemplo, mas, na literatura maçônica universal, os pronunciamentos de eclesiásticos em louvor da Maçonaria encheriam livros.
Somente relembrando, e para mais um pouco, de enriquecimento a todos nós, os autores do “Livro Maçônico do Centenário”, partindo da definição aceita pela corrente da Grande Loja Unida da Inglaterra, escreveram as seguintes palavras: “… e como alegoria não é mais do que um símbolo oral, resulta que podemos dar-lhe a seguinte definição gráfica: a Maçonaria é a ciência da moral desenvolvida e ministrada pelo método do antigo simbolismo.”
Enfim, todas as opiniões externadas sobre a Maçonaria que aqui foram colocadas, e mais milhares de outras que não caberiam no quadro desta compilação são totalmente válidas de apreciação. Entretanto, a elas acrescentaremos que, além de ser uma ciência de investigação das coisas físicas e metafísicas, a Maçonaria pode ser vista como a soma de tudo o que é bom, justo e razoável, na vida da sociedade humana. Ela representa o ideal a ser alcançado por cada maçom de per si, como por toda a humanidade e permite que cada um de seus associados passe primeiro por todas as experiências que a vida em sociedade impõe, para finalmente, enveredar pela senda que leva à evolução espiritual, objetivo almejado por todos os espíritos considerados elevados.
Fonte: JB News