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SAUDAÇÃO AO DELTA OU AO VENERÁVEL?

Existe diferença na saudação entre GOB e Grande Loja? Na edição de abril um Irmão pergunta qual o lugar no Oriente se saúda o Venerável Mestre. Em nossos rituais ensina que saudamos o Delta Sagrado e não o Venerável. O Rito não é o mesmo (REAA)?

CONSIDERAÇÕES.

Realmente, aqui no Brasil, como se isso fosse o correto, depende do ritual e da Obediência.

 

O atual ritual do REAA do GOB, por exemplo, determina que ao se entrar e sair do Oriente, essa saudação seja feita exclusivamente ao Venerável Mestre. Já outras Obediências, como é o caso da vossa Grande Loja, me parece determinar que ela seja feita ao Delta.

Sob o ponto de vista tradicional do escocesismo simbólico, sobre esse fato, cabem alguns esclarecimentos para melhor entendimento desse fato.

Na realidade, o costume de se saudar ao Delta é oriundo da época dos primeiros rituais escoceses do simbolismo (a partir de 1804) na França. Nessa época, o piso da Loja era todo no mesmo nível (elevado era só o Altar ocupado pelo Venerável), não havendo, portanto, nenhum desnível entre os pisos e nem balaústra entre o Oriente e o Ocidente (costume seguido pelos “antigos”). Devido a isso, durante a circulação horária, quando alguém cruzasse o eixo do Templo, no mesmo nível e mais próximo do Altar ocupado pelo Venerável, esse deveria saudar o Delta, ou a letra G que o substituía em alguns casos.

No que diz respeito à saudação ao Venerável Mestre, ainda naqueles tempos, geralmente ela só acontecia se alguém ingressasse ou se retirasse formalmente da Loja, oportunidade em que eram saudados inclusive os Vigilantes, tal como costumeiramente ainda se faz.

Entretanto, essa regra acabaria sendo mais tarde alterada pelo aparecimento das Lojas Capitulares a partir do primeiro quartel do século XIX (vide a sua história na França). Essa alteração se daria porque, dentre outros costumes admitidos de então, o principal seria o de se alterar a topografia do espaço reservado à sala da Loja elevando e demarcando o Oriente, tudo para se adaptar à novidade capitular que, a partir dai, teria incorporado para si também os três graus simbólicos. Assim, com o espaço oriental demarcado e elevado, é que surgiria o termo usual de se “entrar e sair do Oriente”, por conseguinte, também o de se saudar o Venerável quando do ingresso e saída do espaço oriental.

A título de esclarecimento, para os ritos que não adotam o espaço oriental elevado e demarcado, como é o caso do Craft inglês e americano, Rito de York, por exemplo, o Oriente da Loja é simplesmente a parede oriental e aqueles que ocupam lugar imediatamente à sua frente, ou os que ficam mais próximos a ela (como era também o REAA nos seus primórdios).

Retomando o raciocínio, mais tarde, ainda no século XIX, as mencionadas Lojas Capitulares, por razões administrativas ocorridas entre o Grande Oriente da França e o Segundo Supremo Conselho do REAA, seriam extintas, mas não sem antes ter deixado a sua marca no simbolismo do Rito – o espaço oriental elevado e demarcado pela balaustrada permaneceria consuetudinariamente até o presente.

A despeito de tudo isso é que passou a existir a prática de se saudar o Venerável quando se entra e sai do Oriente, e ao Delta quando em deslocamento (circulação no Ocidente) ao se passar da Coluna do Norte para a do Sul próximo do limite com o Oriente.

Não existe saudação nem ao Delta e nem ao Venerável ao se transitar de um lado para outro no Oriente, pois nele não há circulação porque simbolicamente ali é o lugar da Luz, tanto daquela relativa à “Criação” (o Delta), quanto daquela concernente à Sabedoria e Esclarecimento (o Venerável).

Assim, muitos rituais corretamente ainda hoje mantêm o costume de saudar ao Delta e ao Venerável conforme a ocasião. Outros, entretanto, sem nenhuma explicação, equivocadamente restringem essa saudação apenas ao Venerável quando se entra e sai do Oriente, extirpando qualquer saudação ao Delta.

É oportuno ainda mencionar que a saudação maçônica é sempre feita pelo Sinal, portanto são dispensáveis as inventivas inclinações com o corpo e/ou os maneios com a cabeça em qualquer situação. Se na oportunidade as mãos estiverem ocupadas, far-se-á apenas uma parada rápida e formal com os pés e esquadria, corpo a prumo e sem incliná-lo – o Oriente não é tatame de judô.

Concluindo, devo respondê-lo que sem dúvida alguma praticamos o mesmo Rito, portanto todos os procedimentos ritualísticos “deveriam” ser equivalentes, entretanto, como bons latinos que somos, aqui no Brasil, cada Obediência construiu seus próprios costumes, o que tem feito com que na maçonaria tupiniquim, sem nenhum juízo de valor, possam literalmente existir entre os rituais de um mesmo rito, diferenças elementares adquiridas principalmente pelo desenfreado apetite de se editarem rituais (talvez para alguém nele colocar o seu nome). Sem nenhum embargo, todas as nossas Obediências, em maior ou menor escala, acabaram fazendo do REAA uma verdadeira “colcha de retalhos”, construída principalmente a partir de enxertos e invenções. Obviamente que cada um “puxa a sardinha para a sua brasa”.

T.F.A.

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

Fonte: pedro-juk.blogspot.com.br

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